Lucas Sanches comandava gabinete do ódio que produzia fake news contra adversários

Foto: Divulgação
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Investigado pelo Ministério Público e Polícia Civil por corrupção, candidato a prefeito do PL aparece em conversas de WhatsApp tramando disparo de notícia mentirosa.

Gabinete do ódio comandado por Lucas Sanches fabricou mentiras para atacar adversários

A briga entre o vereador Lucas Sanches, candidato a prefeito de Guarulhos pelo PL, e seu ex-chefe de Gabinete, Caíque Marcatt, que fez graves denúncias, inclusive de tentativa de assassinato, contra seu antigo amigo na última quarta-feira, na Câmara Municipal, desencadeou uma série de acusações que começam a ser divulgadas pela imprensa.  Conversas em um grupo de WhatsApp obtidas pela Folha revelam que Sanches seria o comandante de uma espécie de “gabinete do ódio” em Guarulhos, com o objetivo de produzir fake news contra seus principais adversários.

Em uma das conversas do grupo denominado “Carne crua”, que tinha como participantes ativos  Lucas Sanches, o vereador de Itaquaquecetuba, Carlos Santiago, além de integrantes do Gabinete do vereador, nominados como “Gabinete Giovani” e “Gabinete Caio”, o candidato do PL ordenou no último dia 27 de abril, período de pré-campanha, que uma fake news contra o deputado estadual Jorge Wilson, candidato do Republicanos, fosse disparada de fora de Guarulhos a partir de um chip que deveria ser queimado, conforme apontaram seus interlocutores. “Manda de fora de GRU nos grupos”, escreveu Lucas Sanches.

Em entrevista ao site Diário de S. Paulo, Caíque Marcatt, confirmou a prática: “Eles criavam esses perfis e saíam da cidade para que seus aparelhos não fossem alcançados pelas torres locais”, disse.

Grupo combinou em detalhes como seria o disparo mentiroso para não deixar rastros

O diálogo começa em 17 de abril com Santiago sugerindo que o grupo promovesse um ataque ao Xerife do Consumidor: “Pessoal o que acham de colocar na edição aquele em que ele aparece com a parte do Almeida 13”. Giovani responde: “Não acho ruim não, até porque esse aí tende a viralizar. Não é a mensagem do vídeo, mas não custa nada deixar no subconsciente tbm. Depois dá para fazer outro só citando a questão do PT e podemos citar de leve tbm que ele ferra com os comerciantes”.

Após debaterem a viabilidade do vídeo considerado por eles mesmo ser uma fake news, Lucas Sanches, conhecido por dominar as redes sociais desde sua campanha para vereador em 2020, ordena que o dispara seja feito de fora de Guarulhos. Santiago concorda: “Disparo vindo de fora. Sem rastreio”. Lucas completa: “Boa”.

Mais para frente Santiago orienta os executores do plano como devem proceder, repetindo uma tática de quem não quer ser flagrado como autor de fake News: “ (dispara) Em movimento. De preferência. E acho que o chip que disparar isso precisa queimar. Importante não ter usado em sua casa e etc… Cruzar ERB. Porque esse vai ser do c….Vão para cima”, ordena.

ERB é a sigla para Estação Rádio Base, que é uma estação fixa com que os terminais móveis se comunicam num sistema de telefonia celular. Produtores de fake News geralmente utilizam essa tática para impedir que a polícia identifique de onde partem os ataques mentirosos.

Lucas Sanches, mais uma vez, como comandante do gabinete do ódio, dá o aval final para a ação, ao responder a Caio, responsável do gabinete do ódio por fazer os disparos. Caio escreve: “O chip que tenho lá no grupo, eu nunca loguei em nenhum wifi. Vou disparar amanhã cedo, fora da cidade então e já descarto pela estrada. Lucas Sanches responde “isso”. Santiago emenda: “Perfeito”.

A conversa que teve início às 14h37 de 17 de abril termina às 21h58 do mesmo dia após uma última ordem de Lucas: “Bom compartilhar com um ´Você viu isso? ´. Para gerar curiosidade”, demonstrando que tinha habilidade para despertar o interesse de quem visse a mensagem em grupos de WhatsApp.

Lucas comemorou sucesso da ação mentirosa com gargalhadas

No dia seguinte, já em 18 de abril, o gabinete do ódio de Lucas volta a agir às 9h51. Caio avisa sua tática para confundir os adversários. “Galera, mandei um vídeo agora do Laércio no grupo onde ele fala que o xerife é inimigo do povo e dos comerciantes. Já solto a música. Para confundir e eles pensar que partiu do pt”. Santiago responde; “Show”.

Às 11h19, Caio avisou os colegas: “Soltei. Kkkkk. Eu acabei de quebrar o chip, senão eu ia soltar kkkkk. Tô sem número naquele grupo agora kkkk”. Lucas Sanches posta: “kkkkk”. Santiago cita: “Avisei o Anderson”. Giovani completa: “Essa foi f… Caio encerra: “Soltaram no jornal. Kkkkk”, comemorando o sucesso da fake news. 

A prática de se usar gabinete do ódio surgiu dentro do próprio PL, partido de Lucas. Partia de uma “milícia virtual”, com domínio de perfis falsos em redes sociais e divulgação de fake news direcionadas a atacar adversários.

Ex-chefe de gabinete denunciou Lucas por tentativa de assassinato e esquema de corrupção

Em entrevista coletiva na última quarta-feira, Caíque Marcatt, ex-chefe de Gabinete do vereador Lucas Sanches voltou a fazer graves denúncias, inclusive dizendo que o candidato do PL foi o maior responsável pela tentativa de assassinato que sofreu em 5 de agosto.

“Se alguma coisa acontecer comigo, com a minha família ou meus amigos, esse sangue está na mão do Lucas Sanches, do Santiago (vereador do PL de Itaquaquecetuba), do Luciano Jack e do Anderson Araújo. Esses foram os responsáveis por todas as ameaças que eu, minha família e o Valdir Pimenta sofremos”, afirmou. Marcatt disse que foi convidado por membros do PL, inclusive pelo próprio vereador, para assumir os crimes cometidos durante o mandato e blindar Lucas de possíveis acusações do Ministério Público (MP). Na ocasião, o gabinete já estava sendo investigado, a partir de denúncias, pela prática de rachadinhas, quando assessores são obrigados a devolver parte de seus salários ao titular do mandato.

Ao não aceitar participar do esquema, há cerca de três meses, passou a sofrer retaliações do grupo de Sanches, sempre seguindo a orientação de Santiago, culminando no rompimento entre os dois. De acordo com Marcatt, as primeiras ameaças tiveram início logo após ele se negar a assumir os crimes cometidos no gabinete de Lucas. “A primeira ameaça foi a retirada da minha legenda como candidato a vereador. Tanto que não fui convidado para participar da convenção”, realizada no final de julho.

A partir de então, a situação teria se agravado. Caíque contou que até mesmo sua família também passou a ser alvo das ameaças do vereador. “Foram 4 anos dedicados a ele e ao projeto político para que ele pudesse ter condições de ser candidato a prefeito hoje pelo PL. E ele simplesmente fez essas ameaças, começou a ameaçar meu sogro, minha esposa, e a coisa foi só escalando”, disse.

A situação se tornou insustentável no último dia 5 quando ele, ao lado do jornalista Valdir Pimenta Junior, que também rompeu com Lucas, foi covardemente atacado em frente à padaria São Bento, na avenida Guarulhos. Três homens atacaram os dois, deixando-o gravemente ferido. “O monitoramento mostrou que havia dois carros passando aqui na Câmara duas horas antes do crime, um T-Cross preto e o Kwid branco, que hoje está apreendido n o 5º Distrito Policial”. Logo após a tentativa de homicídio, em vídeos divulgados na internet, tanto Caíque como Pimenta acusaram Lucas Sanches de ter participado do crime.

“A tentativa de homicídio é simplesmente por queima de arquivo. Porque se eu morresse e os crimes fossem imputados a mim, eles estariam protegidos”, afirmou Marcatt.

Em resposta, assessoria diz que ataques tem fins eleitorais

A assessoria jurídica de Lucas Sanches divulgou uma nota na quarta-feira em que os ataques se tratam de ilações feitas por Caique Marcatt podem se configurar como crime eleitoral, resultando em ação penal pública incondicionada. Afinal, não é possível ignorar a possibilidade de Marcatt estar atacando a honra de Sanches visando fins eleitorais. “Marcatt parece ter obsessão em desqualificar Sanches, para quem, até pouco tempo, devotava lealdade. Ou, infelizmente, pode estar se prestando ao papel de linha auxiliar de adversários políticos de Sanches, que temem seu crescimento nas pesquisas de intenção de voto”.

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