Gostaria que não fosse verdade as conversas reveladas pelo site “The Intercept” quanto ao procurador Deltan Dallagnol acerca de seus interesses em lucrar com a “Operação Lava Jato”, pois a sensação que deixa é que o oportunismo tomou conta da legalidade e em muito superou a necessidade de combater a corrupção, ao que parece permitindo que a justiça (a qualquer preço) teria um fim em si mesmo, o que nos impõe a obrigação de questionar o processo e sua aparente legalidade, cujos objetivos dos atores da persecução penal não os distancia de criminosos comuns.
É inegável que Dallagnol ganhou fama com sua caçada aos corruptos, mas parece que isso não contentou seu ego, sua vaidade profissional e financeira, que se aflorou de forma impensada para um fiscal da lei, tanto que se permitiu discutir estratégias escusas para arrecadar com palestras, congressos e eventos que seriam explorados através de empresas laranjas com o único objetivo de maquiar as receitas que lhe seriam destinadas, operação claramente ilícita e sem qualquer pudor, de onde ainda desponta o uso de funcionárias do Ministério Público Federal para a organização de suas palestras, num claro desvio da função pública.
Aliás, despudor que não o intimidou de sugerir ao Juiz Sérgio Moro o uso de valores de processos judiciais para a finalidade de vídeos institucionais, como se tudo se permitisse naquela república, muito particular e com regras próprias, onde a lei é uma mera condição a ser superada pela simples hermenêutica daqueles operadores do direito, onde as regras vão se ajustando à conveniência do processo.
Não se pretende aqui criticar a operação em si pelo simples fato da contaminação de seus agentes por seus interesses pessoais, tão pouco que se anule o processo e que não se combata e puna a corrupção que assolou o país, mas é preciso repensar o que ocorreu na “Lava Jato” e na atuação de seus atores.
Ora, não podemos achar natural a promessa de cargo ao juiz da causa em meio ao processo eleitoral por um dos candidatos, ali intervindo com diversos atos judicias tendentes a impactar a opinião pública, tão pouco fazer vista grossa às conversas de Dallagnol, responsável pela acusação, com inequívoco interesse no resultado da ação para projetar sua imagem e, via de consequência, aferir vantagens com sua “fama”, situação vergonhosa que retira a credibilidade dos trabalhos desenvolvidos, pois, ainda que restem claros alguns dos crimes apurados, a forma como se conseguiu a condenação dos investigados se distancia da lei e da moralidade.