Coluna Livre com Hermano Henning

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Nada contra o animalzinho simpático, herói nordestino, mas dizem que quando alguém vem com uma saída absurda, ou mesmo, maldosa, para tentar resolver um problema, costuma-se dizer que teve “ideia de jerico”. E esta é, realmente, uma ideia de jerico.

Não se sabe onde exatamente ela surgiu. Segundo o agora senador, jornalista e homem de rádio, Jorge Kajurú, a coisa nasceu da cabeça do dirigente corintiano Andrés Sanches.

Eu explico: A CBF, com a desculpa de que os clubes estão precisando de dinheiro, saiu com a história de que as emissoras de rádio devem pagar pelo direito de transmissão dos jogos.

Wanderley Nogueira, consagrado locutor da Jovem Pan, reagiu indignado. “Se isso vingar, todo o rádio esportivo sofrerá uma mudança radical”, disse. Eu acrescento: mudança para pior.

Kajurú, no Congresso, iniciou movimento pra tentar conter a iniciativa e já encaminhou pedido de ajuda para o presidente Bolsonaro. Tomara que tenha sucesso.

É fácil entender. Rádio e futebol sempre andaram juntos e a história de um se confunde com a do outro. Mais do que a televisão, o rádio chegou, em alguns casos, a dever sua própria existência ao futebol. E vice-versa.

Isso correu em todo o Brasil.

Araraquara, no interior de São Paulo, foi uma das primeiras cidades a ter uma “rádio difusora”. A PRB-4, Rádio Cultura, entrou no ar a partir de um serviço de alto falantes na Praça da Matriz em 1932, o ano da revolução paulista.

A Cultura está até hoje no ar. 87 anos! Sua história esteve sempre ligada ao futebol. Junto com o rádio teatro, a cobertura dos clubes amadores chamava atenção de toda a cidade. E Araraquara ouvia a Cultura. Em peso.

A partir dos anos 50, veio o futebol profissional com a Ferroviária. “A Cultura esteve sempre junto, caminhando com o clube,” diz Fernando Martis, que começou na emissora como “repórter de campo” nas transmissões esportivas e hoje é repórter de TV em São Paulo.

Não são poucos os profissionais formados pelo rádio esportivo das emissoras do interior. A Rádio Marconi, de Paraguaçu Paulista, formou Joseval Peixoto. A Vera Cruz de Marilia nos deu Osmar Santos.

Talvez eu próprio não teria seguido o jornalismo não fosse a Difusora de Guararapes, a ZYZ6, onde comecei nos anos 60. E todos nós começamos fazendo esporte. O esporte no rádio era e é o futebol.

O futebol deu faturamento para o rádio do interior sobreviver. E em muitas capitais isso aconteceu também. As transmissões e programas esportivos são até hoje a tábua de salvação das emissoras espalhadas por este Brasil.

Está certo que futebol sustenta as emissoras. Mas o que seria do futebol sem o rádio? Esquece, Andrés.

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