Ouvi um desses comentaristas de rádio chamar ontem de “atitude pornográfica” a decisão da comissão do Congresso, responsável pelo Orçamento da União, de aumentar de dois bilhões para três bilhões e oitocentos milhões de reais a grana destinada para os políticos gastarem nas eleições municipais do ano que vem.
Dinheiro para as campanhas de prefeitos, seus respectivos vices e vereadores. Grana que vai sair do nosso bolso.
Os dois bilhões iniciais haviam sido reservados pelo governo Bolsonaro. Os políticos da comissão acharam pouco. Aumentaram para quase o dobro, alegando que muito dinheiro vai ser gasto nas campanhas já que as eleições nos municípios envolvem um grande número de candidatos. Vejam só!
PT e PSL, os dois partidos com a maior representação no Congresso, vão abocanhar o grosso da dinheirama. Juntos, os dois partidos vão receber 727 milhões pra financiar seus candidatos. Vai ter verba pra todos eles.
O líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara, o deputado gaúcho Paulo Pimenta, disse que “é justo”. E acrescentou, na maior cara de pau, que a legenda ganhou esse direito “nas urnas”:
— É proporcional ao número de votos que cada partido teve na última eleição. E a população nos conferiu essa condição de ser a maior bancada.
Quanto ao fato do suado recurso sair do bolso do eleitor o deputado nada disse. Nem lhe perguntaram.
O jornalista que chamou a história de “pornográfica” lembrou não ter sido consultado quando depositou seu voto nas eleições passadas. Tudo bem.
Só não concordo com o adjetivo usado. Pornografia é algo que tem seus seguidores. Tem gente que gosta. Dessa decisão dos políticos de Brasília duvido que aja alguém nesse país que concorde com o absurdo de desviar dinheiro da assistência à saúde para campanha eleitoral.
A não ser esses políticos, é claro. Serão financiados por nós, eleitores, míseros mortais.
Dizem que esse é o preço da democracia. Não concordo também. A distribuição da verba vai dar aos dois partidos, PSL e PT, um volume de recursos bem maior do que o das outras legendas. Ter mais dinheiro pra gastar, dinheiro nosso, repito, não é exatamente um detalhe que reforce o sentido democrático numa campanha eleitoral.
Melhor seria que cada um desses candidatos respondesse por suas despesas de campanha. Quer ser prefeito? Vereador? Pague o preço com dinheiro de seu bolso. Ou então reúna seus amigos e convença-os de que você é um bom candidato, será um bom prefeito ou vereador. Eles lhe ajudarão. Se acreditarem.