Coluna Livre com Hermano Henning

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Fiz alguns documentários para a Globo nos anos oitenta e noventa dos anos 1900. Era repórter, primeiro, baseado em Colônia, na Alemanha e, depois em Londres, na Inglaterra. Foi época brava de conflitos na África, onde trabalhei em Angola mostrando o conflito entre a Unita e o MPLA com José Wilson Damata, cinegrafista que operava ainda com filmes Kodak nas velhas câmeras CP.  Registramos o envolvimento de 50 mil soldados cubanos enviados por Fidel Castro para lutar ao lado do MPLA. Fizemos imagens em Lubango, divisa com a Namibia, mostrando o ataque dos caças sul-africanos pilotados por mercenários israelenses.

Na volta ao Brasil me mandaram para a Antártica que rendeu um documentário com imagens de Orlando Moreira, até hoje atuante cinegrafista no escritório da Globo em Nova York. Foi a primeira expedição brasileira ao continente gelado que culminou dois anos depois com a construção da base Comandante Ferraz. Rendeu também um documentário no Globo Repórter.

Gosto de lembrar uma reportagem feita com a direção de Eduardo Coutinho sobre a seca no Nordeste nos anos oitenta. Rendeu o que a gente chamava na época de “documento verdade”. Coutinho era um dos diretores de segmento do Globo Repórter e seu documentário, “Cabra Marcado para Morrer”, ainda estava inédito.

Foram anos de trabalho ao lado de alguns dos melhores documentaristas que a televisão brasileira revelou. Não eram só aventuras. Com o baiano-carioca Jotair Assad levantei a vida do cantor e pianista Dick Farney por ocasião de sua morte. Fizemos uma belíssima entrevista com o cantor Lucio Alves, velho companheiro dele e fui mostrar o sucesso do cantor Nelson Ned no México e em Cuba.

Os fatos, com imagens e texto viraram reportagens, que pela duração e tratamento se transformaram em documentários. Todos exibidos pelo Globo Repórter da época, quando ainda se usava o celuloide do cinema no lugar das câmeras eletrônicas.

Por isso tudo é difícil pra mim considerar “Democracia em Vertigem” um documentário jornalístico.

O conteúdo do trabalho de Petra Costa, escolhido para concorrer ao Oscar deste ano, não vale para compor o retrato de um momento importante da história do país. Pelo menos dentro do meu ponto de vista. Não o havia visto por inteiro. Consegui ontem. É omisso, falso, e não passaria pelo crivo dos editores do velho Globo Repórter.

Mas não levem em consideração isso. É o olhar de um repórter. Um cineasta pensa diferente. Cinema é outra coisa, percebi agora:

Petra não é repórter. É uma cineasta.

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