Da Redação
São Paulo iniciou ontem uma quarentena cultural. Afinal, as salas de cinema não abrirão suas portas, assim como teatros, museus, shows, espaços culturais, galerias, além de todas as unidades do Sesc. A decisão atende a uma convocação feita pelos governos estadual e federal na luta contra a disseminação do novo coronavírus – e segue medidas drásticas adotadas por capitais europeias, além de Nova York.
O Sesc compreende 43 unidades em todo o Estado e a decisão foi tomada na manhã desta segunda-feira (16), pelo seu diretor regional, Danilo Santos de Miranda, que determinou a reabertura no dia 31 de março, caso a situação tenha se acalmado. Decisão diversa da escolhida, naquele mesmo momento, por distribuidores de cinema, que mantiveram uma conversa virtual até concluir que o fechamento de suas salas será por um prazo indeterminado – uma solução inevitável pois ontem, último dia com portas abertas, se repetiu o desânimo do fim de semana: um pequeno público decidiu comparecer.
“Logo percebemos que algo aconteceria”, contou ao jornal O Estado de S. Paulo o ator André Loddi. “Na nossa última sessão, o público não parecia receptivo, estava frio e dava para notar muitas pessoas usando máscaras.” Ele integra o elenco de Summer: Donna Summer Musical, que apresentou no sábado, no Teatro Santander, suas duas últimas apresentações antes do recesso forçado. O mesmo aconteceu no 033 Rooftop, localizado no último andar do Santander, onde também aconteceram as sessões finais de Silvio Santos Vem Aí! “Esperei o final da última apresentação para revelar a triste notícia”, disse a produtora Marília Toledo.
Silvio Santos estreou no dia anterior, na sexta, e, apesar de uma plateia animada, percebiam-se cadeiras vazias: foram desistências de última hora. “Estávamos muito animados, foi decepcionante”, confessa Adriano Tunes, que brilha no musical no papel da Velha Surda da Praça da Alegria. “Se há algum consolo é que tivemos uma semana com muitas apresentações; então, a folga inesperada no domingo ajudou no descanso”.
Quem não conseguiu relaxar foram os produtores, preocupados com uma conta que não fecha: sem bilheteria, como manter os pagamentos de elenco e equipe técnica em dia sem espetáculos? “Não sei precisar um número exato, mas o prejuízo seria gigantesco”, continua Marília. “Não apenas por conta da falta de bilheteria, mas teríamos de manter a folha de pagamento por mais tempo que o planejado. E ainda tem a campanha de mídia”.
No caso de Donna Summer e Silvio Santos, a volta está prevista para o dia 4 de abril, determinada pela direção do Teatro Santander, autora também da decisão de parar. Isso representou um alívio pois, se fosse uma escolha da produção, o aluguel do espaço deveria continuar a ser pago.
O que preocupa de fato são os projetos financiados por leis de incentivo, notadamente a Rouanet. Segundo as regras, o dinheiro liberado só pode ser utilizado para pagamentos (especialmente de salários) quando acontecem apresentações. “Se não tem peça, não é possível usar aquela verba”, conta a produtora, dramaturga e jornalista Célia Forte, da produtora e assessoria Morente Forte. “Foi por causa disso que resolvemos manter a apresentação da peça Sede no domingo, no Tucarena, mesmo com o risco de pequeno público – ao menos seria possível fazer os pagamentos”.
Célia e outros profissionais integram entidades como a Associação dos Produtores de Teatro, que ontem apresentou um guia com 10 medidas para enfrentar o impacto econômico, social e institucional do coronavírus na cultura. Entre elas, desoneração dos impostos para os espaços culturais por um período determinado e descontingenciamento dos mais de R$ 300 milhões do Fundo Nacional de Cultura.
Questionado pela reportagem, Sérgio Sá Leitão, secretário estadual de Cultura e Economia Criativa, disse que estão em estudo medidas em três eixos: incentivo fiscal, fomento direto e crédito facilitado. “Teremos notícias em breve”, acrescentou.
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