Desde o dia 7 de maio o uso de máscaras passou a
ser obrigatório pelas ruas de todo o Estado de São Paulo. De item opcional na
luta contra o contágio do novo coronavírus, todos passaram a precisar
utilizá-las após decreto do governador João Doria (PSDB).
A maioria das máscaras, tal qual os carros na
cidade, segue um padrão discreto no rosto daqueles que por um motivo ou outro
precisam sair às ruas – de cores preta, branca ou azul marinho, combinam sem
alarde com o tradicional cinza paulistano. Algumas, no entanto, fogem dessa
regra monocromática e chamam a atenção pela forma como combinam com o restante
da roupa ou pelo carinho com o qual foram escolhidas. A reportagem do Estadão
ouviu algumas histórias sobre como foram feitas, compradas ou obtidas. Enfim,
quais são os motivos das estampas e outros detalhes a respeito desse inusitado
item do vestuário que, ao que tudo indica. veio para ficar.
Vestindo jaqueta verde militar, boné estampado e
óculos escuros, o haitiano Edwigt Espera, de 33 anos, os últimos sete morando
no Brasil, compunha o modelo “street wear de sobrevivência das ruas do
pós-normal” com seu pano preto de estampa branca amarrado no rosto.
“O uso das bandanas é muito comum no meu país, são fáceis de achar, baratas
e muito simples de usar”, resumiu ele, antes de sumir pelas alamedas
grafitadas da Vila Madalena.
Em seguida, surge o desempregado Marcio de
Oliveira Souza, de 50 anos. “Era inspetor de alunos de uma faculdade em
Higienópolis e fui demitido em janeiro desse ano. As coisas já não estavam
fáceis antes desse vírus aparecer, imagine agora”, completa. Vestia uma
máscara camuflada preta, branca e cinza, que ganhou da esposa. As mulheres,
aliás, parecem mesmo ser as grandes provedoras de máscaras dos parceiros,
namorados, maridos e filhos.
A printer Milena de Oliveira, 27 anos, que
exerce seu trabalho de designer em um ateliê de impressão, que o diga. Com o
parceiro, o tatuador Jefferson Torquato, de 31 anos, exibiam intrigante máscara
de pano com estampas de motivos tropicais. “Fiz essas duas máscaras a
partir de uma ecobag antiga que tinha produzido. Ela estava em casa, cortei o
pano, costurei, coloquei os elásticos. O desenho fui eu que fiz também.”
Para combinar com a máscara artesanal, os dois
vestiam um clássico das ruas paulistanas: calça de sarja preta e camiseta
branca.
Mas toda regra tem uma exceção e, nesse caso,
isso foi atestado pela história da professora aposentada Selma Bitelli, de 62
anos, fotografada com uma máscara azul clara com desenhos discretos de coroas
portuguesas, formando um elegante degradê com sua camiseta estampada de
pássaro. “Ganhei minha máscara do meu filho”, resumiu orgulhosa.
No Largo da Batata, caminhava a elegante
corretora de imóveis Jucilene de Jesus Cintra, de 43 anos. Sua máscara rosa
ornava altiva com uma camiseta de mesma cor, casaquinho branco realçando as
cores vivas da composição. “Você está focalizando na foto a minha camisa
também? Escolhi porque combina com a cor da máscara, percebeu? O turbante eu
coloquei porque meu cabelo está muito grande e sem corte, desse jeito dou uma
disfarçada”, dispara. A máscara foi comprada com outras que adquiriu de um
costureiro boliviano, em uma rua paralela ao largo.
No semáforo em direção à Marginal do Pinheiros,
o motoboy Rafael Vicente, de 36 anos, aguardava o verde do sinal para seguir
apressado e vencer o vírus, a crise e as contas que não param de chegar, tudo
isso no entanto, sem esquecer o bom humor, evidente na máscara comprada no
Brás. O apetrecho exibia uma estampa com o detalhe de um clássico das tardes de
tantas gerações, o bigode do Seu Madruga, personagem do seriado mexicano
Chaves.
Na ciclovia da Faria Lima transitava com sua
inseparável bike Fábio Tenório, de 40 anos. Ele trabalha numa bicicletaria
próxima à Faria Lima e usa todo dia o veículo de duas rodas para se transportar
pela cidade.
Adivinhem a máscara – no seu caso uma bandana –
que usava? Um pano cinza com multicoloridas bicicletas. “Já tenho essa
bandana faz uns dois anos e já a usava para me proteger do frio. As orelhas,
principalmente. Agora, claro, passei a usar mais”, afirma.
As estampas temáticas não param de aparecer pela
Avenida Faria Lima. A bancária Daniella Souza, de 27 anos, exibia caveiras
mexicanas. “Adoro esses desenhos, minha mãe achou esse modelo e me deu de
presente”, disse, antes de entrar apressada no banco.
O designer Alessandro Pontes, de 44 anos,
comprou por meio de uma rede social uma máscara com divertidos desenhos de
cães. “Pesquisei alguns lugares que estavam vendendo máscaras que fugiam
um pouco do comum até achar essas.” A advogada Renata Leuzzi, de 35 anos,
vestia uma com motivos florais comprada de “umas meninas que vendiam na
frente do Pão de Açúcar da Gabriel Monteiro da Silva”.
Por fim, os últimos fotografados foram o motorista
de aplicativos José Augusto Faria, de 44 anos, com seu filho o pequeno Gabriel,
de 4 anos. Eles exibiam as tais máscaras discretas, mas a fofura do pequeno
Gabriel chamou a atenção da reportagem e rendeu um belo retrato de pai e filho.
Uma cena que nos mostra que a delicadeza e a alegria estão sempre presentes,
mesmo em momentos difíceis como esse.
Um novo acessório da moda: as máscaras
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