Turismo
dentro do Brasil e, de preferência, em lugares aonde se vá de carro. Com essas
tendências na pós-pandemia, a retomada das viagens certamente passa pelos
hotéis. Resorts ou pousadas, tanto faz. Daqui em diante, o que os viajantes
devem ficar de olho são as práticas de higiene e cuidados com a saúde.
“Quem conseguir passar uma imagem de segurança vai ter vantagem”,
avalia Marcela Ferreira, professora do curso de Turismo da Universidade Anhembi
Morumbi. Para ela, marcas conhecidas da hotelaria podem significar solidez.
“A pessoa vai pesquisar a viagem e, se encontrar um Ibis, já sabe o que
vai encontrar. Se for ver uma pousada qualquer, pode ficar na dúvida “
Hotéis menores também podem transmitir confiança devido ao número reduzido de
visitantes. “As sete villas, em um bosque natural de 7 mil metros
quadrados, são bem ventiladas, assim como o lounge ao redor da piscina”,
diz André Zanonato, proprietário do Etnia Casa Hotel, em Trancoso, na Bahia.
“Justamente por propormos esse conceito, cada família ou casal em sua
villa já está, praticamente, seguindo o distanciamento.” Entre as várias
medidas para o retorno, em julho, está o intervalo de 72 horas após o check-out
em cada quarto, antes da entrada de novo hóspede.
“Acreditamos que os resorts, por exemplo, sairão na frente, exatamente por
terem mais espaços abertos do que os menores”, afirma Emerson Belan,
diretor geral da CVC. “A retomada das viagens vai se dar principalmente no
setor doméstico. Lugares de praia, de campo e hotéis que oferecem muito espaço
de fato livre serão as nossas apostas.”
A reabertura dos integrantes da Resorts Brasil, associação brasileira do
segmento, depende do controle da covid-19 nas cidades e de adaptações aos
protocolos de segurança, diz Sérgio Souza, presidente da instituição. Só sete
dos 56 empreendimentos estão funcionando em junho; a maioria volta em julho ou
agosto. Outro aspecto é evitar retrocesso. “O que aconteceu em Gramado
(que reabriu para o turismo e teve de retroceder) é a pior coisa A gente não
quer isso”, diz Souza. “A preparação não é pequena. Tem de começar a
operar e aperfeiçoar os protocolos. Imagine isso em um resort com mil
apartamentos, embora todos estejam com capacidade reduzida para ter
distanciamento.”
Segundo ele, sauna e jacuzzi ficam fechadas em todos os resorts. Estão
liberados spa (“é mais fácil de controlar com hora marcada”) e
piscina (“o vírus não sobrevive no cloro e garantimos o distanciamento
entre cadeiras”). “Apesar de todo cuidado, a gente não vai ter uma
explosão de demanda. A gente quer passar essa segurança de que as pessoas podem
passar a ter o seu lazer de volta, mas sabe que o retorno vai ser
paulatino”, diz.
A Airbnb, plataforma de compartilhamento de imóveis, vem fazendo parcerias no
mundo para fomentar viagens localmente. Por aqui, escolheu o Estado de São
Paulo. “Cidades perto dos grandes centros ou de onde a pessoa vive são a
bola da vez”, disse Leonardo Tristão, chefe do Airbnb no País, em
entrevista ao caderno Link do Estadão. “No Brasil, estamos medindo o
interesse em viajar no volume de buscas na plataforma e isso já cresceu, quando
olhamos para o verão de 2021.” Para a limpeza dos imóveis, a empresa criou
o Protocolo Avançado de Higienização, com a orientação de autoridades
sanitárias como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.
O intervalo mínimo entre hospedagens deve ser de 24 horas.
Medidas
Independentemente do tamanho e do estilo de hospedagem, todos investem em uma
extensa lista de regras. A Associação Roteiros de Charme lançou o Guia de
Orientação para seus 73 integrantes. Entre as recomendações estão a entrega de
kit com máscara e álcool em gel na chegada, a conscientização dos hóspedes em
relação ao distanciamento e à higiene das mãos e o treinamento para atender a
quem apresente sintomas.
Já o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) lançou um protocolo de
biossegurança feito com base em informações da Organização Mundial da Saúde
(OMS), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da
Saúde. No link fohb.com.br/protocolos, há o material para download.
Cada rede ou hotel busca uma solução. “No início desta pandemia fechamos
um acordo com o Bureau Veritas para estabelecer um protocolo, com selo de
certificação de higienização e conduta dos hotéis”, conta Patrick Mendes,
CEO da Accor América do Sul. “Com isso, lançamos um rótulo de limpeza e
prevenção: Allsafe. Em paralelo, revimos todos os nossos procedimentos e
lançamos o Guia da Retomada, para assegurar o seguimento de novas medidas e
procedimentos, garantindo a saúde de colaboradores e clientes.” Dos 321
hotéis da Accor no Brasil, em torno de 100 estão abertos
Uma parceria do Palladium Hotel Group com a suíça SGS, empresa de inspeção,
verificação, testes e certificação, levaram à criação do protocolo de segurança
e bem-estar. A decisão da Atlantica Hotels foi lançar o selo Atlantica Safe
& Clean Protocol (AS&CP) e um Manual de Diretrizes, aprovado pelo
Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP). Entre diversas medidas estão a medição de temperatura dos hóspedes
na recepção e a espera de 24 horas entre o check-out e a entrada da equipe de
limpeza.
Hi-tech
Luiz Gonzaga Godoi Trigo, professor do curso de Lazer e Turismo da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da USP, destaca ainda os investimentos da
hotelaria em tecnologia de ponta. “Além da higiene das camareiras e do
pessoal da cozinha, vai fazer diferença o uso de equipamentos como o de
ultravioleta para higienizar bagagens e até robôs no room service.”
O Botanique, que conta com chalés individuais e suítes, localizado na Serra da
Mantiqueira, já usa disparos de luz ultravioleta para limpar as malas. “O
hotel está com procura altíssima”, conta Fernanda Semler, sócia e
idealizadora do hotel, reaberto desde 4 de junho. “As opções de mergulho
na natureza são raras em hotéis. A região de fazendas não oferece relevo,
altitude, clima temperado ou águas minerais.
Certamente mais pessoas se darão conta, a partir de agora, que imersão na
natureza não equivale a condomínios lotados de paulistanos.” Antes da
pandemia, o café da manhã já era servido nos chalés. Agora, todas as refeições
são entregues em room service.
Uma das mudanças mais visíveis no setor, aliás, diz respeito à comida.
“Recomendamos que o atendimento de alimentação seja feito,
preferencialmente, nos quartos. Caso seja em salões, deve diminuir o número de
mesas para assegurar o distanciamento mínimo de dois metros e as refeições são
servidas nas mesas, pois proibimos o bufê”, diz Rebecca Wagner, presidente
da Agência do Desenvolvimento de Monte Verde e Região (Move), em Minas Gerais,
cujos hotéis e pousadas também voltaram a funcionar em 4 de junho.
Nos pequenos hotéis, em geral, o bufê foi abolido. Nos grandes, encontram-se
variações. “Tem resort que faz à la carte ou bufê invertido, com
funcionários servindo as refeições. Em outros, os hóspedes pegam a comida com
luvas descartáveis, mas sempre com uma proteção de acrílico por cima”,
explica o presidente da Resorts Brasil.
O Tauá Resort Atibaia reabriu em 5 de junho com os hóspedes se servindo com
luvas, depois descartadas. “Os talheres serão sanitizados e embalados, sem
contato manual”, informou o Departamento de Marketing do Grupo Tauá de
Hotéis. As refeições são marcadas no check-in, quando hóspedes recebem um kit
com cartilha de boas práticas, máscara e álcool em gel. A luz ultravioleta está
na tecnologia contra poluentes do ar no Tauá Aquapark Indoor, parque aquático
com 5 mil metros quadrados.
Para ser usado nos dez empreendimentos da GJP Hotels & Resorts, que começam
a voltar em julho, um aplicativo com várias funcionalidades está quase pronto.
“O hóspede poderá realizar check-in e check-out, consulta de cardápios e
reservas de serviços, além da geolocalização nos resorts para verificar o mapa
de pessoas em tempo real, para que não haja aglomerações”, diz Fabio
Godinho, CEO do grupo, que conta com o Hospital Sírio-Libanês para certificar e
auditar os novos padrões de higiene e desinfecção e segurança em seus hotéis.
Hotéis na pós-pandemia
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