“Nada é permanente, exceto a mudança”.
“Só sei que nada sei”.
“A única constância é a inconstância”.
São algumas das máximas ditas e repetidas há séculos. Hoje, no entanto, elas são constatações factuais do nosso mundo.
De todas as “certezas” que tínhamos menos de seis meses atrás, a única que se manteve de pé é a da incerteza.
Previsões, estimativas, planos e estratégias, outrora tão sólidos, dissolveram-se no ar à medida que um organismo invisível espalhava-se no mundo, trazendo caos, pânico, sofrimento e, com ela, a incerteza.
O ano de 2020 é um ponto de inflexão na experiência humana, em especial no que diz respeito a suas relações.
A pandemia acabou por “acelerar o futuro”, antecipando e concretizando mudanças que já vinham em curso como o trabalho remoto e a educação à distância, assim como a cobrança para que as empresas se tornassem mais responsáveis do ponto vista social.
Outras mudanças mais subjetivas, no entanto, também se tornaram mais presentes e perceptíveis como a solidariedade, a empatia e o próprio questionamento de que tipo de sociedade queremos viver – aquela baseada no consumismo e no lucro a qualquer custo ou naquela em que valores e as relações sejam mais humanas.
Como Amy Webb, professora da Escola de Negócios da Universidade de Nova York, apontou em entrevista à Newsday, a vida será diferente depois do vírus. “Temos uma escolha a fazer: queremos confrontar crenças e fazer mudanças significativas para o futuro ou simplesmente preservar o status quo?”, questionou.
Na relação com o meio ambiente, vale notar a melhora percebida na qualidade ar de grandes centros urbanos com a paralisação parcial de fábricas e menos carros trafegando pelas ruas, ainda que longe de ser suficiente para uma alteração positiva significativa. No entanto, os sinais dos benefícios para que recalculemos a rota ficaram claros. Foi como se o próprio planeta, com a gente em casa, pudesse respirar um pouco.
Por fim, vale analisar como cada um de nós também participará da mudança do ponto vista pessoal. Que tipo de lições podemos tirar do atual contexto para nos tornarmos melhores, não para outra pessoa, mas para nós mesmos?
Com o essencial distanciamento social – autoimposto ou não – de repente nos encontramos sozinhos. Para muitos, você mesmo como companhia é a norma. O que fazer a partir disso? Ainda assim, fiéis a esse traço tão humano da busca pela previsibilidade, tentamos enxergar o que vem à frente.
Por isso, entre clichês e os novos normais que herdaremos da doença pandêmica que assola o planeta, vale lembrar Darwin, em seu clássico A Origem das Espécies, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta”.
Saber adaptar-se, agora, significa fazer parte da mudança imposta a nós, ao mundo. Cuidar mais de si, cultivar a solidariedade ao próximo, alimentar e fortalecer nossas relações, buscar melhores práticas corporativas – ainda que tudo isso em meio ao caos – contribuem para que o “novo normal” seja melhor que o anterior.
Abusando um pouco mais, ouve-se ad infinitum que toda crise é uma oportunidade. Cá está a nossa. Saber aproveitá-la começa conosco, reflete-se em nossas relações afetivas, amplia-se em nossa sociedade e, por fim, reverbera pelo mundo.
Assim, para encerrar, “seja a mudança que você quer ver no mundo”, cada um de nós poderá imprimir nela sua autoria, se fizermos nossa parte.
Herbert Steinberg
sócio-fundador e chairman da MESA Corporate Governance