A grande maioria das grávidas mortas por
covid-19 em todo o mundo é brasileira. De acordo com estudo publicado na
International Journal of Gynecology and Obstetrics, das 160 mortes registradas
entre o início da epidemia e 18 de junho nada menos que 124 ocorreram no
Brasil. O segundo colocado neste macabro ranking são os Estados Unidos, com 16
óbitos.
“São 188 territórios afetados pelo
coronavírus em todo o mundo e o Brasil tem mais mortes maternas do que a soma
de todos esses países”, resumiu a obstetra Melania Amorim, professora da
Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, e uma das autoras do
estudo. Para a pesquisadora, falhas graves no atendimento das gestantes
brasileiras explicam o número tão elevado.
Os dados alarmantes foram noticiados
inicialmente no blog sobre maternidade da jornalista Rita Lisauskas na última
terça-feira. O estudo, publicado no último dia 10, é assinado também por
especialistas da Unesp, UFSCAR, IMIP e UFSC.
Chamado de “A tragédia da Covid-19 no
Brasil”, o trabalho foi feito com base em dados divulgados pelo Ministério
da Saúde.
Das 978 grávidas ou mulheres no pós-parto
diagnosticadas com covid-19 entre os dias 26 de fevereiro e 18 de junho no
País, 124 morreram – um número 3,4 vezes superior ao total de mortes maternas
relacionadas ao novo coronavírus em todo o mundo no mesmo período.
Os números indicam também que a taxa de
letalidade da doença entre as grávidas no Brasil é de 12,7%, ou seja, a mais
alta do mundo. Para se ter ideia, nos Estados Unidos, no mesmo período, 8 mil
gestantes foram diagnosticadas com o novo coronavírus. Deste total, 16
morreram, uma grande diferença.
“Quando os primeiros casos surgiram no
Brasil, começamos a pensar se nossa população seria diferente, mais
suscetível”, explicou Melania. “O que constatamos foi que houve
algumas mortes com fatores de risco associados, como problemas cardiovasculares
e obesidade, mas houve mortes entre grávidas completamente saudáveis.”
Para o presidente da Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Agnaldo Lopes, o número de mortes de
grávidas no Brasil por covid-19 é muito significativo. “Há várias lacunas
de conhecimento ainda sobre a covid-19 e uma delas é a relação entre a doença e
a gravidez”, disse.
Vítima
A paulista de Macatuba Larissa Blanco, 23 anos,
grávida de gêmeos, foi diagnosticada com a covid, no dia 12 de junho. A jovem
gestante apresentou sintomas de gripe, mas só precisou ser internada no dia 26.
No dia seguinte à noite, ela foi transferida
para um hospital particular de Botucatu e entrou em trabalho de parto. Em uma
cesariana de emergência, nasceram com saúde, livres do vírus, os pequenos
Guilherme e Gustavo, mas a mãe não resistiu. “Os dois pequenos vão
precisar muito de mim e eles vão ouvir histórias e saber da mamãe que
tiveram”, disse o marido, o inspetor técnico de qualidade Diego Rodrigues,
de 24 anos.
Os médicos disseram que Larissa teve uma
hemorragia e precisou de transfusão de sangue. Por causa da covid-19, o corpo
não respondeu bem à necessidade de conter a hemorragia e ela sofreu uma parada
cardíaca.
Covid mata mais grávidas no Brasil
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