No condomínio Spazio Miraflores, em Mogi das Cruzes, cidade do interior
paulista, a última assembleia com participação expressiva dos condôminos
ocorreu em 2017, quando as chaves foram entregues. As demais foram esvaziadas.
Com a pandemia do novo coronavírus, a situação está mudando não só no local,
mas em outros condomínios. A implantação das reuniões virtuais fez com que o
quórum das assembleias condominiais dobrasse e a expectativa é de que o modelo
seja mantido mesmo depois que a doença for controlada.
“Um aprendizado importante que tivemos na quarentena foi que as
administradoras se propuseram a fazer assembleias eletrônicas. Sempre teve um
receio do que o novo modelo traria. Neste período, com a realização massiva, os
quóruns dobraram. Se tinha 30%, em média, hoje tem 60% de participação”,
diz Moira Toledo Bossolani, diretora executiva de condomínios do Sindicato da
Habitação (Secovi-SP). A Lei 14.010/2020, publicada no mês passado, permite que
as assembleias sejam realizadas por meios virtuais até o dia 30 de outubro.
Síndico do Spazio Miraflores, o funcionário público Rodrigo Saverino Bus, de 33
anos, diz que a última assembleia, realizada no começo do mês, surpreendeu pelo
número de participantes. “São 734 unidades. Na assembleia de instalação,
quando todo mundo pegou a chave, tivemos mais de 50% de participação. Como 20% do
condomínio é locado, os proprietários não participam. Na assembleia digital,
que durou dois dias, 203 pessoas assinaram a lista de presença e, na reunião
online, para colocar as parciais da votação e encerrar a assembleia, foram 80.
É quase o dobro do que a gente costumava a ter na presencial.”
Bus diz que a tecnologia permite ainda entender melhor as demandas dos
moradores e preparar estratégias para aumentar a participação deles. Também
resolve a dificuldade de permitir a distância de mais de um metro e meio entre
as pessoas no caso de um número mais expressivo de participantes.
“A consegue ter um mapeamento de quais blocos e torres participaram. São
16 torres e as pessoas podem não ir por inadimplência, desinteresse. O salão de
festas comporta 700 pessoas, mas com a necessidade de distanciamento, não seria
possível fazer uma assembleia lá.”
Gerente de relações com os clientes da Lello Condomínios, Angelica Arbex diz
que a empresa já estava reformulando as assembleias para oferecer um modelo
mais moderno aos 3 mil condomínios que administra. “As assembleias mais
cheias eram as de definição de garagem. Nas demais, a participação ficava em
torno de 20% a 30%, porque o jeito de fazer assembleia é muito antigo, não tem
a ver com o modo que vivemos atualmente, com o código de comunicação, com o
jeito que a gente se relaciona. A gente já estava pesquisando para ser uma
coisa interativa e intuitiva.”
Segundo ela, em junho, foram realizadas 107 assembleias. Neste mês, 180 já
estão marcadas e o mês deve fechar com 250 assembleias realizadas. “Os
meses vão passando e a participação dos moradores vai dobrando. Estamos tendo
adesão grande da terceira idade e costumamos dizer que, no modelo digital, todo
mundo fala, mas cada um fala de uma vez.” Desde março, mais de 500 assembleias
digitais já foram realizadas.
Síndico profissional desde 2012, Mauro Possatto, de 47 anos, trabalha em dez
condomínios e conta que os moradores aprovaram a proposta. “É uma
experiência bem interessante. Não imaginava que teria tanta participação e
aceitação.
Proprietários que estão fora de São Paulo passaram a participar. Sempre teve
uma visão de que a assembleia era uma coisa chata, que as pessoas iam virar as
cadeiras. O quórum tem aumentado por causa da curiosidade e porque as pessoas
se sentem mais à vontade.”
Ele diz que tem um pouco mais de trabalho, principalmente com a elaboração de
vídeos explicativos, mas que, no geral, o modelo facilita a vida dos
participantes. “O proprietário que não mora no local não precisa pegar
trânsito e muita gente já está usando ferramentas para se comunicar com
familiares e amigos. Um dos maiores benefícios do maior quórum é que as pessoas
participam mais no dia a dia do condomínio e isso aumenta a legitimidade das
decisões das assembleias.”
Reabertura
O movimento de flexibilização definido pela gestão estadual está sendo
acompanhado pelos condomínios, que também estão promovendo a reabertura de
alguns espaços, mas ainda evitando aglomerações. “O que a gente tem
percebido é que, depois de mais de 100 dias de quarentena, e com o programa de
reabertura do governo, isso acaba se espraiando para os condomínios. Veio uma
demanda crescente desde o primeiro decreto e lançamos uma cartilha. As regras
precisam se adequar à realidade do condomínio, mas eles têm de manter os
protocolos para evitar a disseminação da covid-19. Usar máscaras nas áreas
comuns e manter o distanciamento social são medidas muito importantes”,
explica Moira Bossolani.
Condomínios dobram quórum em assembleias com versão virtual
- PUBLICIDADE -