Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estimam que cerca de 1,5 milhão de
adultos já foram infectados na cidade de São Paulo pelo novo coronavírus. Na
mais nova etapa da pesquisa, que tem como objetivo rastrear a imunidade à
covid-19 na capital paulista, o grupo encontrou presença de anticorpos em 17,9%
das amostras coletadas na capital paulista.
Segundo os pesquisadores, o estudo também não
teria indicado sinais de que a doença está se propagando de forma acelerada na
cidade. Isso porque o resultado de pessoas com presença de anticorpos é
semelhante ao de etapas anteriores.
O estudo, com apoio do Instituto Semeia e participação
de profissionais do Laboratório Fleury e do Ibope Inteligência, está atualmente
na fase 3 e fez exames em 1.470 moradores com mais de 18 anos da cidade. As
amostras foram colhidas em residências de 115 setores censitários, em áreas
classificadas por faixa de renda e espalhadas por todas as regiões de São
Paulo, entre os dias 20 e 29 de julho.
Uma das novidades desta etapa foi a realização
de dois tipos diferentes de exames sorológicos em cada coleta – em vez de um
só, como era feito até então. Com a mudança de metodologia, os cientistas
notaram a existência de casos que só foram identificados por um dos exames. Ao
todo, 262 amostras testaram positivo.
“Esses resultados demonstram que pesquisas
feitas com um único teste não são suficientes para identificar todos os
indivíduos soropositivos na população, porque subestimam o resultado em pelo
menos 50%”, afirma o biólogo Fernando Reinach, colunista do Estadão,
que foi responsável por reunir os pesquisadores participantes do projeto.
“Conseguimos ver que metade é pega pelos dois exames, mas há outros casos
que são pegos só pelo teste antigo ou só pelo teste novo.”
Foi por essa razão que a prevalência
identificada nesta etapa da pesquisa (de quase 18%) ficou acima dos 11,4%
percebidos na fase 2, de acordo com Reinach. Segundo o estudo indica, se apenas
o exame antigo tivesse sido aplicado, a presença de anticorpos só teria sido
percebida em 11,5% das análises – mesmo índice da fase anterior, considerando o
intervalo de confiança do resultado.
De acordo com Reinach, a comparação entre os
índices de diferentes fases da pesquisa também indica que a doença não teve
propagação acelerada no período. “O que cresceu está dentro da margem de
confiança. Ou seja, está crescendo pouco ou parou de crescer. O que é uma ótima
notícia.”
O estudo com testes sorológicos se propõe a
avaliar se uma determinada população está próxima ou distante da chamada
“imunidade de rebanho” – momento em que a maioria das pessoas
apresenta anticorpos por já ter tido algum contato com o vírus. Ainda não se
sabe com certeza qual é o porcentual de habitantes necessário para atingir o
nível de segurança em relação à covid-19, mas as estimativas variam entre 20% e
60%.
Segundo boletim epidemiológico do sábado, 8, São
Paulo contabiliza oficialmente o total de 10,1 mil mortes e 246,6 mil
diagnósticos confirmados de covid. Considerando a estimativa da pesquisa,
portanto, pelo menos 84% dos casos não teriam sido oficialmente notificados.
Perfil dos infectados
Ainda de acordo com resultados da fase 3, o
grupo com maior prevalência é formada por pessoas do sexo feminino, negras ou
pardas, de menor renda e baixa escolaridade.
O estudo indica que 18,4% das mulheres teriam
sido mais infectadas, enquanto o resultado ficou em 17,8% entre os homens. Já
na classificação por cor/raça, foram encontrados anticorpos em 20,8% dos
participantes que se identificaram como negros ou pardos, e 15,4% entre
brancos.
Já a divisão por faixa de renda indica mais
risco para os mais pobres. Os testes positivos representaram 22% no setor de
menor renda (até R$ 3.349); 18,4% no de renda intermediária (R$ 3.350 a R$
5.540); e 9,4% em maior renda (R$ 5.541 ou mais).
Em pessoas com Ensino Fundamental incompleto ou
completo, o índice foi de 22,5% e 23,7%, respectivamente. A prevalência diminui
para 17,5% para o grupo com Ensino Médio e para 12%, com superior.
Na classificação por idade, a faixa com maior
presença de anticorpos foi entre 40 e 49 anos (22%). A menor foi de entre
participantes com 60 anos ou mais (15,8%).
Estudo estima que 1,5 mi de adultos foram infectados pela covid na cidade de SP
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