Integrante do Observatório Covid-19 BR, a epidemiologista Maria Amélia
Veras avalia que, no primeiro momento, o País acertou em focar no cuidado com
pacientes graves, investindo na busca de respiradores e de leitos de UTI – os
últimos aumentaram em 45% durante a pandemia, segundo o Conselho Federal de
Medicina (CFM). Em seguida, no entanto, o Brasil teria passado a acumular
muitos erros pelo caminho.
O coronavírus chegou por pessoas de estratos socioeconômicos mais elevados, que
haviam viajado para o exterior. Até aí havia relativo sucesso das medidas de
combate. A situação saiu completamente do controle quando o vírus atingiu as
camadas mais vulnerabilizadas da população, diz Maria Amélia. O número de 100
mil mortes é absolutamente emblemático de como o Brasil lidou com a pandemia
até agora.
Na visão de Maria Amélia, as ações de saúde esqueceram que a transmissão do
vírus se dá pela população. Só metade das pessoas aderiu ao isolamento social.
Agora, com as pessoas esgotadas de ficar em casa, assistimos a um processo de
reabertura desordenado, para o qual não nos preparamos.
Para o físico Silvio Ferreira, da Universidade Federal de Viçosa, há várias
circunstâncias a considerar. Enquanto a melhora da prática médica para lidar
com pacientes graves ajuda a reduzir as mortes, a reabertura econômica
antecipada e a chegada do vírus a cidades menores puxam o índice para cima. O
futuro da pandemia depende de todos esses fatores, diz Ferreira. Se o
relaxamento das restrições acelerar, o número de 200 mil mortes pode ser
atingido em pouco tempo.
Coronavírus: Brasil acertou em buscar respiradores e leitos
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