Dias com temperaturas quentes, vontade de usar a
piscina para relaxar ou se exercitar. Mas, em tempos de pandemia, quais os
riscos? “Não existe contaminação pela água; é impossível”, acalma a
infectologista Roberta Schiavon Nogueira. “O coronavírus não tem sobrevida
na água. Além disso, o cloro mata todos os agentes bacterianos. O problema é a
aglomeração”, diz.
Com a reabertura das áreas recreativas e o
retorno das aulas aquáticas, academias, condomínios e clubes adaptaram seus
ambientes. Dentre as mudanças adotadas, limitação de uma pessoa por raia e
higienização constante das áreas públicas são as mais comuns.
O Clube Esperia, por exemplo, na zona norte de
São Paulo, passou a usar um sistema de agendamento das aulas, restringindo o
número de alunos, além de respeitar o espaçamento de dois metros durante as
aulas de hidroginásticas e limite de dois participantes por raia nas de
natação. “Nossas aulas contam com um intervalo de 15 minutos entre as
sessões para higienização e troca de turmas, além de dois períodos diários
entre os turnos para limpeza e manutenção do espaço”, diz o presidente
Luiz Felippe Lombardo.
Para Maria Gabriela Valverde, professora de
natação infantil do Clube Esperia que retomou suas aulas após cinco meses de
contrato suspenso, o cuidado se faz necessário desde o momento em que saímos de
casa. “É um período muito novo. Dá uma sensação de alívio e receio de voltar”,
relata.
Justamente por atender os pequenos, Gabriela
confessa que com a volta às aulas, seus ensinamentos foram além do nado crawl.
“Acabamos entrando em partes comportamentais, sobre manter a distância,
claro que sem assustá-los. A gente tenta, de uma forma lúdica, passar a
importância de se cuidar”, conta ela, que agora dá aulas com face shield,
mesmo dentro d’água.
O uso livre das piscinas difere em cada caso. No
Pinheiros, frequentado pela fotógrafa e diretora de arte Manuela Lourenço, não
há agendamento porque, segundo a diretoria, ainda não houve necessidade.
“Eu chego na piscina, deixo as minhas coisas em uma espreguiçadeira, nado,
fico ali até me secar e coloco a máscara”, relata.
A cautela com a máscara nos locais de piscina
devem ser ainda maiores. De acordo com a infectologista Roberta, o ideal é
levar uma máscara nova dentro de um saco que impeça a umidade para ser usada
após o nado. “Quanto mais úmido o ambiente, menor a durabilidade da
máscara”, diz.
Existe também uma preocupação com o toque nos
objetos, bordas e corrimão da piscina. Porém, segundo Roberta, não é preciso se
alarmar. “O risco é pequeno. Tem água sendo espirrada o tempo todo”,
tranquiliza. Assim, ao entrar na piscina, caso tenha encostado na superfície,
deixe sua mão na água clorada por alguns minutos para garantir a segurança
durante o tempo na piscina. Depois de tocar no corrimão ao sair, higienize a
mão com álcool em gel ou água e sabão.
Na ACM São Paulo, as aulas de natação e
hidroginástica voltaram ao normal em suas 11 unidades. Com a necessidade de
agendamento prévio, 30% dos alunos inscritos nas atividades aquáticas
retornaram às piscinas, inclusive a turma acima dos 60 anos. Nas raias, é
permitido de 3 a 5 alunos e os professores e salva-vidas usam máscara e o protetor
de acrílico, o face shield Uma vez por período, os espaços são fechados para
limpeza. Já o Sesc São Paulo permanece com suas piscinas fechadas, apesar da
retomada gradual de outras atividades esportivas em algumas unidades. De acordo
com a assessoria de imprensa da instituição, a equipe está em fase de
avaliação.
Academias
Nas academias, a rotina também foi alterada
desde julho, quando a prefeitura autorizou a reabertura das unidades, seguindo
protocolos.
Além disso, cada uma buscou formas de demonstrar
aos alunos que a volta com segurança é algo possível. Na rede Competition, que
tem quatro unidades na cidade, a volta das atividades aquáticas foi escalonada,
de acordo com as idades – a turma acima dos 60 anos, por enquanto, ainda não
retornou. As aulas são agendadas via aplicativo e cada raia recebe dois alunos
por aula. O uso da piscina aos domingos, que antes era livre, foi suspenso.
Em um primeiro momento, 30% dos alunos
retornaram. Agora, esse número aumentou para 55%. “A principal dúvida foi
com o uso da máscara na piscina ou somente nos vestiários. A nossa recomendação
é que eles venham com máscara até o ambiente da piscina e, no local onde
colocam sua toalha, também guardem sua máscara”, diz a diretora
operacional da Competition, Flavia Brunoro.
Na Aquasport, que possui duas unidades na
capital, as adaptações começaram antes mesmo do aval da prefeitura para a
reabertura, como a instalação de lavatórios nas salas e reforço no sistema de
troca do ar condicionado. Até o momento, 60% dos alunos retornaram.
“Estava com a academia adaptada desde maio. Quando anunciaram que podíamos
reabrir, não precisei esperar”, diz Eduardo Leme, gerente geral.
Na natação infantil, além da redução da turma,
cada aluno agora fica em cima de sua plataforma e apenas um adulto pode
acompanhar a criança. As aulas perderam 5 minutos, passaram a ter 40, para que
as turmas evitem se encontrar entre a entrada e a saída. Para os adultos, a
academia, que já tem raias mais largas do que o normal, com 2 metros, até 4
alunos rodavam na mesma aula. Agora, apenas dois nadam alternadamente e não
podem parar na mesma borda. Dentro da área de piscinas, há dois tambores com
cloro para que cada um higienize o material que irá usar, como as pranchas. No
tratamento da água, o cloro ganhou um reforço de 0.5% além do mínimo exigido
pela Vigilância Sanitária
Nova rotina
Apesar de todas as adaptações, há quem ainda não
se sinta seguro para voltar a treinar em ambientes fechados ou com aulas
coletivas. É o caso do instrutor de pilates e triatleta amador Luiz Fernando
Sassoli, de 37 anos. Antes da pandemia, ele havia conseguido uma vaga para usar
duas vezes por semana a piscina olímpica do Complexo Esportivo do Pacaembu,
administrado pela Prefeitura de São Paulo. A piscina, que fica fechada durante
o inverno, era para ter sido reaberta em setembro, com a chegada da primavera.
Mas, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, a reabertura não tem data
para acontecer.
A solução que Sassoli – que é portador de uma
doença autoimune e, por isso, tem a imunidade baixa – encontrou foi treinar na
piscina aberta do prédio em que mora, na Vila Sônia, na zona sul da capital.
Ele decidiu não recorrer à academias: “Piscinas particulares são todas
fechadas. Não há circulação de ar no ambiente. E tem que dividir a raia com
outro aluno. Como vou saber se ele tem ou não covid?”.
Sassoli procura treinar logo cedo, de acordo com
as instruções de seu treinador. Mas há inconvenientes, como dias de chuva ou
quando há muita gente usando a área de lazer. “Eu interfono para o
porteiro e pergunto se está vazia.” Ele só pretende treinar em uma piscina
coletiva quando houver vacina disponível.
A precaução se justifica
A infectologista Roberta alerta que é preciso
ter cautela e observar se no local escolhido não há aglomeração. Afinal, a
doença ainda é uma ameaça real. “Não é a hora de a gente banalizar. É
preciso respeitar as restrições.”
FIQUE ATENTO
Isolamento
Apesar de não haver contaminação pela água,
fique atento ao entorno da piscina. Mantenha distância e use máscara.
Proteção
O ideal é levar uma máscara nova dentro de um
saco que impeça a umidade, para ser usada após o nado. A antiga pode perder sua
capacidade de proteção pela umidade do local.
Pessoal
Não compartilhe toalhas,
óculos de sol ou qualquer outro objeto que possa
ser facilmente contaminado.
Contato
Certifique-se de que seus professores usem
máscara face shield para se aproximar de você. Isso garante que a saliva não
atinja seu rosto.
Organização
Procure frequentar a piscina de sua preferência
fora do horário de pico.
Segurança
Em caso de dúvida sobre o momento certo de
voltar à atividade aquática, consulte seu médico.
Usar a piscina na pandemia é possível, mas exige cuidados
- PUBLICIDADE -