Livro de críticas reúne artigos dispersos

Enquanto escrevia para jornal e para a Internet (já na segunda metade da década de 1990), o historiador e professor Darlan Zurc nunca planejou reunir o próprio material um dia. E a Internet, assim como ele, estava apenas começando.

O tempo passou, e eis que a junção dos textos dispersos aconteceu de fato e deu origem agora ao livro de não ficção “A fúria de papéis espalhados”.

Dono de uma verve ácida e sarcástica (influência de, entre outros, Gregório de Matos e Paulo Francis), Zurc debocha dos temas hegemônicos, presenteia com erudição o leitor, explica inclusive sobre a fragilidade da visão romântica acerca do amor e sentencia a respeito da vida: “Não existe escolha sem renúncia”.

Vários textos fazem no título uma paráfrase de trabalhos consagrados, a exemplo de “Prometeu alcoolizado” (referência a “Prometeu acorrentado”, de Ésquilo), “Um engano chamado modo de produção” (alusão a “Um bonde chamado desejo”, de Tennessee Williams) e “A política como ideia” (menção a “A política como vocação”, de Max Weber).

Apesar de a obra ter nascido na sua época de estudante universitário, o tom profundo e não acadêmico é um grande mérito, pois o estilo universitário geralmente é enfadonho, truncado e sem fluidez. O estilo de Zurc é direto, jornalístico, divertido e, às vezes, poético.

A FÚRIA DE PAPÉIS ESPALHADOS

Darlan Zurc, editora Scortecci, 2021, R$40 (176 págs.), R$25 (e-book; audiobook via assistente de voz)

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