Pesquisa com juventudes de São Paulo revela ações prioritárias para o futuro do trabalho no pós-pandemia

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O Brasil vive o seu bônus demográfico, por isso soma o maior número de jovens produtivos da história. Um cenário que deveria ser muito favorável, se esse público não tivesse sido um dos mais afetados pela pandemia de Covid 19. No entanto, uma parte deles acredita que algumas ações, se priorizadas por empresas e instituições públicas, podem atenuar os efeitos negativos da crise no trabalho. Oferta de cursos de qualificação, novas dinâmicas de trabalho e fomento de projetos das juventudes são algumas delas.

É o que diz o Relatório Especial para a Cidade de São Paulo da pesquisa “Juventudes e a Pandemia: E agora?”, coordenada pelo Atlas das Juventudes e parceiros*, realizado em parceria com o GOYN SP (Global Opportunity Youth Network em São Paulo, articulado pela United Way Brasil), Rede Conhecimento Social e Prefeitura de São Paulo. Foram ouvidos 1.988 jovens, de 15 a 29 anos, residentes da capital paulista, entre os dias 18 de julho a 21 de agosto de 2022. O perfil dos respondentes é principalmente de jovens que estavam estudando (61%) e trabalhando (83%, sendo em sua grande maioria aprendizes) no momento em que responderam a pesquisa.

Citado por 29% dos entrevistados em uma questão de múltipla escolha, a ampliação da oferta de cursos de qualificação profissional é a principal saída para ajudar jovens paulistanos a lidarem com os efeitos da pandemia no trabalho e, dessa forma, apoiar a inclusão produtiva deste público. Durante a crise sanitária, por necessidade ou oportunidade, 73% deles adquiriram o hábito de buscar mais cursos para qualificação e querem continuar com ele. Encontrar empresas que valorizem esse cenário passa a ser um diferencial para os jovens.

“A oferta da formação técnica e profissional no Ensino Médio é valiosa para as juventudes, que podem ter acesso ao mundo do trabalho e à uma inserção produtiva segura e qualificada. A educação profissional que os jovens almejam deve oferecer ferramentas e conhecimentos para que cada um possa construir seu projeto de vida e organizar a continuidade da sua formação profissional”, avalia Diogo Jamra, gerente de articulação do Itaú Educação e Trabalho.

Iniciativas que estimulem o surgimento de novos trabalhos também estão entre as ações mais citadas (25%). O mesmo estudo indica que 82% dos respondentes estão otimistas (muito ou parcialmente) com o surgimento de novas formas de trabalho no pós-pandemia e 45% garante que se pudesse, escolheria empreender.

Ambientes profissionais que incentivam novas dinâmicas de trabalho (25%), como home office e horários flexíveis, também é, segundo os jovens respondentes, uma ação prioritária para que instituições públicas e privadas contribuam para minimizar os prejuízos da pandemia no trabalho, afinal 68% dos jovens ouvidos pela pesquisa concordam totalmente que as pessoas aprenderam que é possível ter produtividade sem a necessidade de estar presencialmente no trabalho e 62% enxergam a flexibilidade de horários como um hábito para a área do trabalho adquirido durante a pandemia e que faz todo sentido continuar em prática.

“Embora a maior parte dos jovens entrevistados esteja em modelo de trabalho presencial (57%), a pandemia mostrou que há outras formas possíveis de atuação no mercado e o jovem percebeu que ele também pode acessar essas novas configurações no mundo do trabalho, que oportunidades dignas de escolhas têm se descortinado também para eles. Os cursos de qualificação podem garantir ou acelerar esse acesso”, avalia Nayara Bazzoli, Líder do GOYN SP (Global Opportunity Youth Network), programa internacional que trabalha com a inclusão produtiva de jovens potência na cidade de São Paulo.

A prevalência do modelo presencial se dá pelo fato de que 91% dos jovens entrevistados que estavam trabalhando integram programas de jovens aprendizes, “que é um programa de inclusão produtiva muito importante no contexto do trabalho hoje porque é uma das principais portas de entrada dos jovens no mundo do trabalho de forma regulamentada e digna. Nosso levantamento mostra outras alternativas para que as empresas recebam bem esses jovens e colham inúmeros benefícios dessa parceria”, explica Marcus Barão, Coordenador Geral do Atlas das Juventudes e Presidente do CONJUVE. Iniciativas que gerem oportunidades para incentivo, financiamento ou fomento de projetos das juventudes aparece como a quarta ação da lista de adesão pelos jovens (24%)

Sete outras ações foram citadas pelos jovens como atenuantes dos efeitos da pandemia no trabalho, destaque para ações sociais e ligadas ao universo do empreendedorismo. Eles citam ainda a ampliação de empregos formais (18%), oferta de projetos de formação e desenvolvimento de competências empreendedoras (16%), políticas para ampliar a inserção de grupos minoritários no mercado de trabalho (15%), políticas de renda emergencial para famílias em situação de vulnerabilidade (15%), criação de espaços e redes de apoio para autônomos e empreendedores (12%), ações para redução de burocracia e/ou cargas tributárias para empreendedores (7%) e até políticas de crédito e acesso a capital (4%).

Saúde: Ansiedade afetou 59% dos jovens e 76% buscam trabalhos que permitam a conciliação entre vida profissional e pessoal

Vida pública, saúde e educação também são temáticas presentes no Relatório Especial para a Cidade de São Paulo da pesquisa “Juventudes e a Pandemia: E agora?.

A saúde emocional é um tema transversal que afeta todas as áreas da vida dos jovens, que foi agravada ao longo da pandemia e por isso citada diversas vezes ao longo da pesquisa. Para 59% deles, a ansiedade foi uma das condições de saúde física e emocional sentidas como resultado direto ou indireto da pandemia, motivo que pode estar diretamente conectado à valorização que os jovens manifestaram em relação a experiências de trabalho que permitam a eles conciliar trabalho e vida pessoal de forma equilibrada, hábito que 76% começaram a adotar durante a pandemia e que pretendem continuar priorizando.

A saúde emocional também foi o tema mais citado quando perguntados, em questão de múltipla escolha, sobre ações prioritárias para instituições públicas e privadas ajudarem jovens a lidarem com efeitos da pandemia na saúde. 47% diz que atendimento psicológico na saúde pública especializado em jovens deveria ser prioridade e, em seguida, 38% cita a necessidade de acompanhamento psicológico nas escolas.

Além do medo de perder familiares e amigos devido à Covid-19 (55%) e de viver pandemias (38%), passar dificuldades financeiras (33%) e agravar ou desenvolver problema de saúde física ou emocional (29%), estão entre as maiores preocupações geradas pela pandemia nos jovens. “Projetos sobre autocuidado e autoconhecimento são citados por 24% dos jovens e essa já é uma realidade oferecida por muitas empresas hoje, um cenário muito positivo e que precisa ser disseminado pelo mercado. Por outro lado, é triste ver a nossa juventude tendo que se preocupar com questões tão complexas. Com certeza as empresas têm um papel importante para que jovens possam se preocupar com outras questões, compatíveis à sua fase”, completa Nayara Bazzoli.

Educação: maioria dos estudantes entrevistados prioriza a educação que prepara para o mundo do trabalho

Já em relação à educação, 49% dos estudantes entrevistados chegaram a parar de estudar na pandemia, mas retornaram. E 63% sentem que ficaram para trás no aprendizado. Ainda assim, mais da metade (54%) acredita que, neste momento, os conteúdos mais relevantes para serem aprendidos são aqueles que os preparam para o mundo do trabalho e a maioria (63%) está otimista com a conexão da educação com o mundo do trabalho.

Vida pública: Pandemia deixou as pessoas mais conectadas com a política e recuperação econômica é uma das prioridades

Em relação à vida pública, 86% dos jovens defendem a democracia. Apenas 3% pretendem se candidatar a algum cargo político em futuras eleições, mas quando perguntados o que fariam se fossem governantes, 33% priorizariam a criação de um plano para fortalecimento da educação; 32% investiriam em ações de combate à fome e 30% focariam na recuperação econômica.

73% dos entrevistados está pessimista com o comprometimento de políticos com a sociedade e metade se preocupa com a representatividade dos jovens na política. Mas, mais da metade (56%) está muito otimista ou otimista em relação aos espaços de participação na sociedade.

Quando o assunto são os aprendizados deixados pela pandemia na vida pública, 52% dos jovens concordam totalmente que as pessoas estão mais atentas a acontecimentos mundiais que podem afetar a vida no Brasil e 46% entendem que a pandemia deixou as pessoas mais conectadas ao tema.

*A pesquisa nacional “Juventudes e a Pandemia: E agora?” foi coordenada pelo Atlas das Juventudes e realizada em parceria com Conselho Nacional da Juventude (CONJUVE), Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Rede Conhecimento Social, Mapa Educação, Porvir, UNESCO e Visão Mundial, com apoio de Itaú Educação e Trabalho, GOYN SP e UNICEF.

Metodologia

Por meio da metodologia PerguntAção, da Rede Conhecimento Social, foram conduzidas oficinas online para construção coletiva de todas as etapas da produção de conhecimento. Jovens de diferentes realidades e territórios são bolsistas colaboradores da iniciativa.

Questionário e amostra

Hospedado na plataforma online SurveyMonkey, contou com 70 perguntas distribuídas entre cinco principais blocos. Amostragem por conveniência, com monitoramento referenciado pela distribuição populacional de jovens. Ponderação por faixa etária e Unidade da Federação, com base na Pnad Contínua de 2022.

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