No Brasil, incidência é mais alta nas regiões Sudeste e Sul, em função do índice de desenvolvimento humano e da urbanização
As doenças inflamatórias intestinais (DII) atingem mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, o número de casos novos tem aumentado e se concentra nas regiões Sudeste e Sul, em função do índice de desenvolvimento humano e urbanização – fatores que impactam, sobretudo, nos hábitos de vida da população.
As doenças inflamatórias intestinais, representadas pela doença de Crohn e retocolite ulcerativa, são doenças imunológicas que se caracterizam por inflamação do trato gastrointestinal, de forma crônica e progressiva, com períodos de atividade e remissão. Enquanto a doença de Crohn pode acometer todo o trato digestivo, desde a boca até o ânus, a retocolite ulcerativa é limitada à inflamação no intestino grosso. Essa inflamação leva a danos orgânicos, incapacidades e redução da qualidade de vida do paciente.
Os sintomas variam de leve a graves dependendo do grau de atividade inflamatória e de onde ela ocorre. O quadro clínico se manifesta com diarreia crônica com duração superior a 1 mês, presença de sangue ou muco nas fezes, dor abdominal, anemia por deficiência de ferro e perda de peso.
A causa das DII é complexa e vem sendo extensivamente estudada nas duas últimas décadas, o que a torna desafiadora. Fatores genéticos, imunológicos e alterações na microbiota intestinal são as principais causas das doenças. Além disso, outros fatores de risco modificáveis têm sido estudados como o tabagismo, redução do tempo de aleitamento materno, consumo de alimentos ultraprocessados e uso excessivo de antibióticos na infância.
“A genética contribui para o surgimento das DII em 30 a 50% dos casos, mas os gatilhos ambientais e de microbiota são indispensáveis para que as doenças se manifestem. Por isso, é importante sempre prezar por hábitos de vida saudáveis como manter a dieta balanceada, evitar uso indiscriminado de antibióticos e antiinflamatórios e não fumar”, pontua Luísa Leite Barros, gastroenterologista do Einstein.
De acordo com a médica, é fundamental estar atento à saúde intestinal, já que essas são doenças que afetam consideravelmente a qualidade de vida do paciente, ocasionando altos índices de absenteísmo, por exemplo, além de ampliar o risco para o desenvolvimento do câncer – a retocolite ulcerativa pode aumentar em 10 vezes o risco para tumor de intestino em até 20 anos.
“As doenças inflamatórias intestinais não têm cura, mas consultas com gastroenterologista podem estabelecer o diagnóstico correto de forma precoce, a partir do qual é possível definir um tratamento multidisciplinar individualizado mais efetivo e apropriado, melhorar qualidade de vida do paciente e evitar danos intestinais irreversíveis”, ressalta.
Atualmente, o rastreio das doenças envolve desde exames de sangue, como o hemograma e o PCR, exames de fezes, como o parasitológico de fezes e a calprotectina fecal e, em casos suspeitos, a ileocolonoscopia com biopsias. Mas Luisa admite que a medicina de precisão é uma realidade cada vez mais próxima e que deve ganhar força no estudo e tratamento das DII, assim como aconteceu com a oncologia em um passado não tão distante.
“No futuro, teremos a identificação de novos biomarcadores e da análise da microbiota que identifiquem quais pacientes são mais suscetíveis às DII, quais são super-respondedores a cada tipo de tratamento e como é possível prevenir o surgimento dessas condições”, conclui.