Após causar alguma ansiedade no mercado, por conta do atraso ocorrido nas negociações do arcabouço fiscal no congresso, o “Novo PAC” foi finalmente anunciado pelo governo federal na última semana. Mas, trazendo pouco ânimo.
Boa parte do investimento de 1,7 trilhão de reais – cerca de 94 bilhões- irá para ferrovias, o que é bastante coerente, pois em todo o mundo há muito investimento neste modal de transporte, por ser o de menor custo para qualquer tipo de movimentação, seja de carga ou de passageiros.
O problema é que o pacote foi anunciado como se fosse “novo”, mas quinze das obras citadas no plano já existem, estando em andamento ou sob concessão. Ou seja, não tem quase nada de novo nisso. Sendo mais justo, tem algumas obras novas, como, por exemplo, a Trans-
nordestina, uma obra que realmente irá gerar impacto positivo na economia a médio prazo.
É importante ressaltar que, no chamado “Novo PAC”, o governo federal também vai investir 185 bilhões em rodovias. No total, o governo vai investir mais em rodovias do que ferrovias, além de investir quase quatro vezes mais em rodovias do que nos portos, chegando a ser quase dezenove vezes mais do que em aeroportos.
Investir muito em rodovias é uma velha prática política, que levou o país a ter agora um emaranhado de rodovias malfeitas e malconservadas. É muito mais rápido construir uma rodovia que uma ferrovia, e sua inauguração é um evento de campanha que cabe dentro do ciclo político de quatro anos, quando vem a reeleição ou a eleição de um apadrinhado político. Com ferrovias não tem como fazer isso, pois sua construção vai além desse ciclo, tendo pouca visibilidade, apesar de ser muito mais lógico e útil investir nelas.
Há ainda dois pontos a ressaltar. O primeiro é que existe uma grande participação da iniciativa privada nesse programa, feita na forma de parcerias público-privadas, o que leva o governo a uma pressão para manter a austeridade fiscal, da qual tem tentado se desvencilhar, sob risco de atraso em obras importantes, caso os investidores privados percam a confiança na execução desse programa. O segundo ponto é seu valor de financiamento, na casa dos 360 bilhões de reais, o que faz aumentar ainda mais o já altíssimo endividamento do governo.
O “Novo PAC” chegou com a cara do antigo – no máximo com um botox aqui e ali – e carente de investimentos em infraestrutura que animem o mercado, deixando a desejar em relação a, literalmente, colocar o país nos trilhos e mostrar um caminho mais claro para o futuro próximo do país.
Fonte: Rogério Araujo é educador financeiro, especialista em mercado financeiro, fundador da Roar Educacional Consultoria e líder econômico pela Harvard School.