A vida mentirosa dos adultos

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Elena Ferrante é uma escritora italiana envolta em mistérios. Acredita-se que esse nome é um pseudônimo escolhido por alguém que não quer se identificar. Ou poderia até representar um grupo que tem ganho notoriedade no mundo inteiro, por causa de seus livros.

Agora surge “A vida mentirosa dos adultos”, que transcorre na mesma Nápoles dos outros escritos, a tetralogia “A amiga genial”.

Narra quatro anos da vida de uma garota, dos 12 aos 16 e a descoberta de um mundo novo para ela. Filha de professores, integra a burguesia napolitana e nunca havia convivido com a periferia, onde reside uma tia. Mas quem quiser saber mais, tem de ler o livro.

O que me leva a repartir com vocês esta reflexão, é o que Elena Ferrante fala sobre o escrever: ela nunca considerou escrever uma forma de terapia. “A escrita, para mim, é algo totalmente diferente: é girar a faca na ferida, algo que pode causar muita dor. Escrevo como aquelas pessoas que viajam de avião o tempo todo por necessidade, mas têm medo de não sobreviver, sofrem durante todo o voo e, quando aterrissam, ficam felizes mesmo estando reduzidas a um fiapo”.

Só vale a pena escrever, se o seu DNA estiver naquilo que você produziu. Mas há outra lição de Ferrante, que serve para aqueles que hesitam escrever porque ficam presos às regras gramaticais ou se curvam à opinião alheia.

Vale ouvir o que ela fala: “Tenho medo das sugestões que tendem a normalizar o texto, do tipo: não é assim que se diz, está faltando pontuação, essa palavra não existe, é uma formulação imprópria, é uma solução antipática, assim fica mais bonito. Mais bonito? A edição perigosa é a que zela pelo respeito do cânone estético vigente e também a que favorece anomalias compatíveis com o gosto difuso”.

Por isso, se alguém disser “no seu texto há coisas boas, mas precisamos trabalhar nisso”, é melhor retirar o manuscrito. Aquela primeira pessoa do plural é alarmante”.

Tem vontade de escrever? Pois escreva e ouça apenas o seu coração. Ou, como já disse outro dia, escreva com toda a sua alma. É isso o que vale. O politicamente correto acaba com a criatividade e coloca freios que maculam a imaginação, em nome de uma correção que gera algo medíocre.

José Renato Nalini

É desembargador, reitor da Uniregistral, palestrante e conferencista

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