Aos 83, deficiente visual e com filho paralítico, seu Cajuzinho recebe diretoria do Guarulhense em casa

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Deyvid Xavier

Humilde, sonhador, alegre e compositor tanto de poesias quanto de músicas. Essas são algumas características de Abílio Rodrigues de Carvalho, mais conhecido como “Seu Cajuzinho”. Morador do bairro da Ponte Grande, em Guarulhos, numa casa simples em que ainda paga o aluguel, esse simpático senhor de 83 anos é natural do município de Mortugaba, na Bahia, localizada ao sudoeste da Bahia, perto de cidades como Vitória da Conquista e Guanambi, já na divisa com Minas Gerais.

Saiu cedo da Bahia por conta das condições difíceis da época, com seus 12 irmãos. Começou a trabalhar por lá mesmo aos 9 anos de idade, na roça, com cana-de-açúcar e guiando os carros de boi. Uma infância sofrida, em que não conseguiu estudar e confessa até que passou fome naquele tempo difícil. Mal sabe assinar o próprio nome por ter estudado pouco tempo em uma escola noturna da Penha, quando chegou a São Paulo, mas não sabe ler nem escrever.

Após sair da Bahia, Seu Cajuzinho e a família foram para Arapongas, cidade a Oeste do Paraná, entre Maringá e Londrina, onde teve toda sua criação e não voltou mais ao estado de origem. Foi no Paraná, também, que seus pais faleceram quando ele tinha aproximadamente 20 anos. Entretanto, a vida não lhe trouxe apenas situações tristes e lhe deu uma parceria de sucesso com seu irmão Valderi, da dupla de sucesso Valderi e Mizael, que já teve mais de 20 LP’s gravados, formando a dupla “Zé Fandango e Birigui”, chegando a cantar o sertanejo raiz na Rádio Arapongas e na Rádio Nacional, hoje Rádio Globo, há cerca de 50 anos.

Seu Cajuzinho veio para Guarulhos em 1953, no trem de ferro, a famosa “Maria Fumaça”. Sua esposa faleceu há cerca de 10 anos, no Paraná, o mesmo tempo em que Seu Cajuzinho começou a perder a visão por glaucoma. “Fiquei sem a visão e sem a esposa. Fiz os exames e os médicos disseram que não adiantava eu operar por causa também da catarata. Mas tenho fé de enxergar, pelo menos um pouco, se Deus quiser!”, disse.

A esposa falecida desse simpático senhor usava uma válvula no coração, que tinha de ser trocada a cada sete anos. O coração começou a bater cada vez mais fraco e ela entrou em coma, vindo a falecer na cidade paranaense. “Ela ficou mais de 40 dias no hospital e morreu. Me fez muita falta. Era uma mulher muito boa”, lamenta o poeta.

Falando em família, seu Cajuzinho tem quatro filhos, um com deficiência há mais de dois anos. Aos 38 anos, Cláudio Rodrigues de Carvalho, o filho mais novo de Cajuzinho, está paralítico, só mexe a cabeça, usa sonda para se alimentar e mora em Campo Limpo, zona Sul de São Paulo. Tem dois netos, um, inclusive, descendente desse filho com paralisia.

Ele também nos conta como faz para passar o tempo e sobre suas vontades na vida. Cajuzinho leva o tempo fazendo músicas e poesias. Isso lhe desperta a vontade de publicar um livro de poesia, já que, segundo ele, conta com mais de 250 poesias, escritas e guardadas em numa pasta pelas filhas. Uma de suas composições poéticas chama-se “Homenagem às Mães”, no qual sente que emociona as mulheres, como foi na igreja de Arapongas e todas suas composições estão escritas, até de máquina, pois faz tempo que compõe. “Fazer poesia foi um dom que Deus me deu. Desde moleque já falava poesia. Nunca achei nada difícil para compor nem para rimar”, conta.

Hoje a vida da família é difícil. Ele nos conta que o salário é pouco e as filhas não trabalham por motivos de saúde. A felicidade é conviver com os irmãos que estão por perto e “fazer barulho” com o violão, já que canta no portão de casa às sextas-feiras, dia de feira na via, e garante que o povo gosta, ao mesmo tempo que entrega algumas cópias de suas poesias para o público que o acompanha.

Sobre a “velhice”, seu Cajuzinho refuta o rótulo e diz que não está velho, já que para ele, o que manda é o coração e a mente. Com isso, ele fala ainda de seus sonhos na vida: em ter de volta sua visão, uma casa própria e publicar seu livro de poesia. Para a realização disso, nos conta que gostaria de ter oportunidades de aparecer na TV, em programas como o de Sílvio Santos, Ratinho, Rodrigo Faro ou Geraldo Luís.

Mas seu Cajuzinho não sabia da surpresa que o esperava. Fã do sertanejo raiz e de duplas como Tonico e Tinoco, Zé Carreiro e Carreirinha, Zico e Zeca, Lio e Léo, Jacó e Jacozinho e José Rico e Milionário, ele nos conta que não tem um toca CD para ouvir seus artistas favoritos. Após a entrevista com esse grande personagem adotado por Guarulhos, a equipe do Atlético Guarulhense, representada pelo presidente Carlinhos, acompanhado de seu filho João, o diretor comercial, Lucas Canosa e o assessor de imprensa, Deyvid Xavier, presenteou seu Cajuzinho com o toca CD que ele tanto queria, além de mais algumas coletâneas musicais do sertanejo raiz, como Tião Carreiro e Pardinho e Milionário e Marciano, que se juntaram após a morte de seus companheiros da carreira, José Rico e João Mineiro, além de uma camiseta do Clube Atlético Guarulhense. Surpreso e feliz ao poder tocar os presentes recebidos, ele vestiu a camiseta do Galo de Guarulhos e demonstrou toda sua alegria com uma pergunta: “e agora, cadê a bola?”.

Imagem: Lucas Canosa

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