Tiro no pé…
Não satisfeito em protagonizar brigas e baixarias públicas contra adversários de todas as espécies, inclusive imaginários, pouco importando se pertencentes à oposição ou meros críticos de seu governo, como parte da mídia que apenas exercita o direito de manifestação, Jair Bolsonaro agora volta seus mais sórdidos ataques contra aliados e as consequências de seu desequilíbrio político e emocional podem ser mais graves do que esperava o presidente, acostumado ao blefe e à falácia.
Os ataques internos começaram com Gustavo Bebiano, demitido da Secretaria-Geral da Presidência, passou pelo deputado federal Alexandre Frota que acabou expulso do partido, agora alcançando Luciano Bivar, senador e presidente do PSL, para chegar nos deputados federais Delegado Valdir e Joyce Hasselmann porque saíram em defesa de Bivar, ele líder do governo na Câmara, ela líder no Congresso, que de fiéis escudeiros do presidente passaram a inimigos declarados de Bolsonaro, a quem não pouparam críticas pelas atitudes covardes e irresponsáveis ao longo do mandato.
Joice Hasselmann, retirada do cargo líder do governo no Congresso por Bolsonaro, soube da notícia pela imprensa, afirmando que “Ninguém teve a dignidade de vir falar comigo e avisar. (…) Eu ganho uma carta de alforria. Graças a Deus!” (…) Em alguns momentos, tive que engolir sapo para defender coisas com que eu não concordo”.
O Delegado Valdir afirmou que iria implodir o presidente diante de uma gravação que possui de Bolsonaro. “Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo”, disse o deputado irritado.
Declarada a guerra interna no PSL, Luciano Bivar imediatamente destituiu os filhos do presidente dos comandos do partido no Rio de Janeiro (Flávio) e em São Paulo (Eduardo), ainda sobrando para a deputada Bia Kicis, aliada de Bolsonaro, que também foi removida da presidência do PSL no Distrito Federal.
A crise na legenda presidencial parece apenas ter começado, fala-se na saída de Jair Bolsonaro do partido, que não perde o mandato, e de mais 20 deputados que estudam uma forma legal de acompanha-lo sem perder do mandato, situação difícil e delicada porque desperta os interesses da comunidade jurídica atenta ao estelionato eleitoral que pretendem dar no partido, desde logo apontando contragolpes às artimanhas que estão sendo elucubradas no descaramento de uma política nunca antes revelada.
Em meio ao desgoverno que toma a nação, aproveitando a crise alheia, o deputado federal Alexandre Frota provocou: “A incompetência do Bolsonaro é tanta que se candidatou dizendo que acabaria com o PT, mas acabou foi com o PSL, partido que deu a ele a oportunidade de se eleger”.
O momento político nos impõe lembrar de duas frases célebres de Nicolau Maquiavel que merecem destaque: (1) “Quando um homem é bom amigo, também tem amigos bons”; (2) “Eu creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos”.
Bolsonaro vai precisar fazer bem mais que arminhas de mão e esbravejar, tendo que primeiro arrumar ajuda para o tiro que deu no pé, pois até seu ídolo (Donald Trump) já o abandonou fechando as portas da OCDE para o Brasil.