Ao se referir a morte de nove pessoas no último final de semana em razão de uma suposta perseguição policial, o Governador do Estado de São Paulo afirmou que: “A letalidade não foi provada pela ação da Polícia Militar, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava ocorrendo o baile funk”.
Por que parece difícil a João Doria aceitar que a ação da Polícia Militar de São Paulo na favela de Paraisópolis foi um completo desastre?
Ora, nove mortos, jovens que foram encurralados e massacrados por policiais que não pouparam chutes e porradas em quem lhes viesse a frente, pouco importando se homens ou mulheres, crianças ou adultos, bastando que estivessem naquele local, onde o som do funk foi substituído pelos disparos das balas de borracha e explosões de bombas de gás, transformando a festividade da comunidade em cenas de terror.
Os vídeos que circulam pela internet e pela mídia demonstram o perigo de conceder a imunidade buscada pela GLO (Garantia da Lei e da Ordem), projeto de lei defendido pelo governo Bolsonaro para excludente de ilicitude em operações policiais deste tipo, onde os excessos cometidos seriam relativizados sem buscar a verdade dos fatos, o que parece preocupante diante do quadro de violência que domina a nova política pública, cujas gestões dos governos estadual e federal pregam a morte como meio de combater a criminalidade, sem qualquer política de segurança pública preventiva.
Na verdade o projeto de lei de excludente de ilicitude tem como objetivo autorizar as ações imaginadas pelo governo federal para repelir manifestações de rua, como se pode perceber das falas do Deputado Federal Eduardo Bolsonaro e depois do Ministro Paulo Guedes acerca da possibilidade da volta de um “AI-5”, afirmações que sofreram severas críticas das mais diversas autoridades do país, demonstrando que apesar do momento político do Brasil ser grave, com rompantes de autoritarismos, não haverá retrocesso à ordem democrática e não se permitirá que a sociedade fique refém de governo algum que desrespeite os mais comezinhos princípios da dignidade humana.
Aliás, por respeito à dignidade das famílias enlutadas pela despedida precoce de seus filhos, jovens de 14 a 23 anos, é que João Doria deveria apenas se solidarizar com o sofrimento alheio, não apenas das famílias, mas de toda a comunidade, por isso deveria se abster de enaltecer os policiais que atuaram na tragédia de Paraisópolis, pois certamente não representam o melhor da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que inegavelmente é bem preparada, mas que nesta ocasião atuou desastradamente, isso se for verdade a perseguição a dois meliantes, até por que disso não se tem ainda qualquer prova senão a versão dos policiais envolvidos.
E para o bem da verdade é que tudo deve ser apurado com rigor, com todo respeito à memória das vítimas e ao direito de familiares e daquela a comunidade que clama por justiça e pela responsabilização de quem deu causa a tamanho sofrimento, que se espera não seja apenas para terminar com o baile funk, cuja tragédia não se justifica sob qualquer enfoque que se veja, quanto menos de segurança pública.