A possibilidade de reabertura de bares e
restaurantes na capital, anunciada pelo governo, divide o setor, que é um dos
mais afetados pela crise gerada pela pandemia do coronavírus. Estima-se que
mais de 20% dos estabelecimentos fecharam as portas definitivamente e mais de 1
milhão de vagas de trabalho foram perdidas em todo o País.
Boa parte dos chefs e donos de restaurantes
afirma que ainda não se sente segura para reabrir as portas, tanto por questões
de saúde como pelo risco de os clientes não aparecerem. A chance de recuo para
a fase laranja (mais restritiva), caso o número de contaminações e mortes por
coronavírus aumente, por exemplo, é também levada em conta.
“Esse possível abre-e-fecha, como já
ocorreu em outras cidades, pode ser ainda mais danoso para a saúde financeira
de um restaurante”, afirma Tomás Foz, proprietário do Fitó, restaurante em
Pinheiros.
Para proteger funcionários e clientes, muitos
estabelecimentos fecharam suas portas em março, antes mesmo de o governo
decretar a quarentena oficial na cidade.
“Estamos bem cautelosos em relação à
reabertura. Fechamos o Cais antes de ser obrigatório e só vamos reabrir quando
estivermos seguros”, conta Guilherme Giraldi, um dos sócios da casa da
Vila Madalena. O restaurante estreou no delivery ontem, e o plano é continuar
trabalhando com a equipe reduzida, apenas com os funcionários que podem se
locomover de carro, bicicleta ou a pé
“Estou surpresa com essa notícia, não
esperava isso para já”, conta Gabriela Barretto, chef dos restaurantes
Chou e Futuro Refeitório, ambos em Pinheiros. “Ao mesmo tempo em que a
gente torce pela reabertura, há outros fatores que precisam ser levados em
conta. Não acho, por exemplo, que os clientes estão prontos para voltar a
frequentar restaurantes.”
Por outro lado, Gabriela prevê pressão para
retomar o funcionamento das casas. “Com a permissão do governo para
funcionar, perco poder de barganha para negociar aluguel e prazos de pagamento
com fornecedores e prestação serviços.”
Protocolos
Mesmo sem muita perspectiva e informações,
restaurantes adiantaram a tomada de medidas de proteção, inspirados no que foi
adotado em outras cidades e países, para que pudessem abrir as portas tão logo
fosse permitido. O Loup, no Itaim-Bibi, montou uma cartilha de procedimentos
que devem ser adotados por todos os funcionários, incluindo manobristas e
seguranças.
O salão da Tasca da Esquina já está pronto para
receber clientes “Se pudesse abrir neste fim de semana, abriria”,
afirma o restaurateur Edrey Momo, sócio do grupo também detentor da Tasquinha
da Esquina, no shopping Morumbi, e da Padaria da Esquina. O cardápio já foi
adaptado para uma versão digital, acessada pelo smartphone via QR Code, e uma
pessoa da equipe foi deslocada para cuidar da higienização do salão.
Edrey diz, porém, que há incertezas sobre o
modelo. “Não dá para se preparar 100%, não temos nenhuma informação
oficial, um protocolo. Não vou comprar termômetro, divisórias de acrílico, sem
saber se serão de fato obrigatórios. Ninguém tem dinheiro para ficar gastando à
toa”, pondera. “Para restaurante, abrir do meio-dia às 18h não faz
sentido. O movimento acaba às 15h. Posso dividir essas horas entre almoço e
jantar? Não sei.”
“Com tantas incertezas, não sabemos ao
certo como vai ser”, diz Mauricio Cavallari, sócio do Pitico e Mica.
A exemplo de outros países, os chefs reivindicam
o uso de calçadas e vagas de carro para expandir o salão. “Seria mais
interessante para todos se, em vez de forçar a abertura na parte interna,
tivéssemos uma política de ocupação das calçadas”, diz Giraldi. O prefeito
Bruno Covas (PSDB) chegou a afirmar que há projeto-piloto para fechar ruas no
centro, mas ressaltou a dificuldade de controle do número de pessoas em áreas
externas. Pontos do protocolo de reabertura devem ser definidos em reunião
entre Covas e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes.
Chefs e donos de restaurantes temem falta de clientes
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