Aprendi desde sempre que documentário, no cinema e na televisão, é produção composta de imagens e texto fundamentados na realidade. No cinema, o filme com uma história inventada, o que chamamos de ficção, é sempre classificado como drama ou comédia. Muitas vezes não é uma coisa nem outra. Em outras vezes, pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Há documentários ficcionais também, onde as coisas ali se misturam, assumidamente. Ficção e realidade, quando juntas, podem dar bom resultado, caso do filme “Dois Papas” dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles com uma atuação brilhante dos atores Anthony Hopkins e Jonathan Pryce.
Dois Papas, lançado em dezembro do ano passado, é apresentado pela Netflix como um “drama-comédia” baseado em fatos reais. Com uma certa boa vontade pode até ser considerado um “documentário-ficcional”. Tem situações criadas pela cabeça do roteirista e usa atores para representar o Papa Francisco e o aposentado Bento 16.
“Dois Papas” está na lista dos indicados para o Oscar deste ano liberada ontem. Concorre em três categorias. Duas de melhor ator, para Hopkins e Pryce, e uma para melhor roteiro adaptado, para Anthony McCarten.
Mas é “Democracia em Vertigem” que nos interessa. A produção dirigida por Petra Costa foi escolhida para concorrer na categoria de “melhor documentário” na festa que vai acontecer em Los Angeles no dia 9 de fevereiro. A exemplo de “Dois Papas”, o trabalho pode ser visto na plataforma Netflix.
“Democracia em Vertigem” narra o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2016 misturando a história familiar da diretora com o PT. Em resumo, diz que Dilma e o PT foram vítimas de um golpe tramado pela troglodita direita brasileira. Sobre a corrupção no partido, praticamente nada.
Comecei a ver na TV, mas abandonei logo no começo. Mas, pelo que li depois trata-se de um trabalho de cinema bem feito. Nossos críticos gostaram.
A primeira manifestação foi do ex-presidente Lula: “Parabéns Petra Costa, pela seriedade com que narrou esse importante período de nossa história”. Lula emendou: “Viva o cinema nacional!” Petra reagiu “extasiada”, assim como toda a cúpula petista.
O Antagonista, portal de notícias que faz oposição ao partido também reagiu: “O partido que elegeu Dilma Rousseff com a propina das empreiteiras é representado no Oscar por um documentário de propaganda realizado pela herdeira da Andrade Gutierrez”.
Eu me atrevo a dizer que o Oscar de 2.020 inaugura com “Vertigem” uma nova categoria: o Documentário-Ficção. Ou seria um Drama-Comédia?