Coluna Livre com Hermano Henning

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Quem diria hein? O The New York Times, o jornal mais prestigiado em todo mundo, e mais respeitado, também se engana.

Em editorial da quarta-feira, falando do Brasil, atribuiu diretamente ao presidente Jair Bolsonaro a ordem de denunciar o jornalista americano Glenn Greenwald por crime de invadir os celulares de autoridades da República.

O NYT foi claro e direto já no título do comentário: “Governo Bolsonaro quer atirar no mensageiro e ignorar a mensagem”. E diz que a “apresentação de acusações criminais pelo governo brasileiro (o grifo é meu) contra o jornalista norte-americano” mostra a prática cada vez mais comum, segundo o jornal, de atacar a imprensa.

O editorial é longo e saiu na primeira página do caderno de política, chegando à conclusão de que “a perseguição à Glenn é grave ameaça ao império da lei”. E denuncia “a perseguição empreendida contra o jornalista”.

Não há como discordar da posição do conselho editorial do Times quando se refere à “culpa” do mensageiro. Algo que todo o universo jornalístico concorda. Essa história de bater em quem transmite a notícia, ignorando o malfeito, é repleta de exemplos entre nós.

Faltou, no entanto, um olhar mais cuidadoso para nossas instituições. Faltou entender que Ministério Público, o órgão que apresentou a denúncia de Glenn Greenwald, não é governo. Ministério Público é uma instituição do Estado, representa a sociedade, e em certo sentido, o cidadão brasileiro.

Faltou ao jornal de Nova York dizer que a iniciativa do Procurador de Justiça responsável pelo encaminhamento da denúncia a um juiz de primeira instância precisa ser aceita. É o juiz, no caso o da Vara Federal de Brasília, quem vai decidir se o senhor Greenwald responderá, ou não, processo como réu. Mesmo aceitando a denúncia não significa que há provas contra o acusado. São suficientes os indícios apontando uma possível participação no crime.

E nem o promotor e muito menos o juiz são empregados do governo. Eles não obedecem aos desejos do presidente Jair Bolsonaro ou de quem quer que seja. Servem os interesses da sociedade. O povo. E é exatamente isso que se espera da Justiça. Tanto aqui como nos Estados Unidos.

Muito bem que o jornal queira mostrar à opinião pública mundial que o governo de direita eleito no Brasil é inimigo dos jornalistas, apresentando o fundador do site The Intercept como um exemplar profissional. Nada contra.   

Mas, seria muito desejar que o New York Times considerasse que nosso país tem instituições que funcionam? O Ministério Público com certeza é uma delas.  

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