Podia ter sido uma grande festa petista no palco do belo Dolby Theatre em Los Angeles que sediou mais uma vez a entrega do Oscar. Estava tudo pronto. A cineasta Petra Costa autora do documentário “Democracia em Vertigem” que denuncia o “golpe” que afastou Dilma Rousseff do poder e a “prisão injusta” do ex-presidente Lula, caprichou no vermelho do vestido. Um belo modelo. Levou também a compenetrada Sônia Guajajara à tiracolo para reforçar a denúncia do “massacre dos povos da Amazônia”.
De uma nação indígena do Maranhão, Sônia, filiada ao PSOL, tem uma elogiada bagagem de militância. Foi candidata à vice-presidente ao lado de Guilherme Boulos na eleição passada. E, sem dúvida, alguém de forte apelo nesse esplendoroso mundo das artes. Lá fora funciona.
O discurso estava decorado para o palco mais visto do planeta: o filme é “uma carta de amor ao Brasil”.
Junto, os cartazes: “697 dias sem Marielle”, “Pare de invadir terras indígenas”, “Resista ao neofacismo”… Tudo com uma boa retaguarda. Caetano, Chico Buarque, Sting. O que há de mais expressivo no mundo das artes. A Netflix, que exibe o documentário, trabalhou bem na promoção. E investiu muito com jantares e encontros com as figuras importantes do cinema. Gente que vota e decide. Só que…
Foi pena. O sul-coreano roubou a festa. Ontem, nos jornais, rádios e emissoras de TV, junto com o caos da chuva, só deu Bong Joon-ho. O coreano fez história. Levou a estatueta de melhor direção, roteiro, melhor filme e melhor filme internacional. E nada de “Democracia em Vertigem”. “Parasita” foi o assunto da mídia no Brasil. E no mundo.
A escolha do filme sul-coreano foi festejada aqui como se fosse alguém dos nossos, o tal de Bong. Não pude ligar a TV no domingo. Foi muita chuva e faltou energia na minha casa, mas ouvi o anúncio do principal prêmio pelo rádio. Na CBN, já na madrugada, os apresentadores vibraram tanto como se o Brasil tivesse conquistado mais uma copa. “Revolução no Oscar!”, gritaram. Acreditem, teve até choro.
Vou ver “Parasita” agora. Dizem que é mesmo muito bom.
Quanto ao desejado momento petista no palco, este vai ter que ficar para uma próxima. A estatueta de melhor documentário ficou para “Indústria Americana”, produzido pelo casal Obama, Barack e Michelle. Uma bela reportagem sobre o fechamento de uma fábrica no estado de Ohio. Tema atual, tratado com muita competência. Era o favorito. Em resumo, um documentário no velho estilo “é tudo verdade”. Mais para Orson Welles do que para Petra Costa.