Coluna Livre com Hermano Henning

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Nunca fui assíduo frequentador do Ponto Chic. Costumava ir lá aos sábados, mesmo assim nem todos, tomar uma caipirinha antes do almoço que acontecia bem mais tarde que nos dias de semana. Naqueles tempos, caipirinha mesmo era apenas aquela de limão, açúcar e cachaça. Nada de vodca e essas frutas de hoje que acabaram sofisticando a coisa. A gente sempre ia, em três ou quatro, mais pra bater papo. E esperar a hora do almoço, lá no sobradinho da Luiz Faccini, casa da Dona Carmem e desses meus amigos, todos de Guararapes.

No balcão, um negro simpático que era a cara do Sammy Davis Junior, cantor, ator, sapateador, da turma de Frank Sinatra. Por isso, nosso barman, garçom e chapeiro, era conhecido apenas por Sammy. Não encontrei até hoje alguém tão amigo e simpático no exercício da função. Este era o Sammy.

O Ponto Chic, esquina da Felício Marcondes com a D. Pedro, não existe mais. O dono desistiu do negócio por causa do preço do aluguel. Proibitivo. Ficaram as lembranças.

O lugar era frequentado pela moçada top da cidade, recém desgarrada da adolescência. Só tinha um detalhe que, pensando nas coisas dos anos sessenta e setenta, só agora percebi: no Ponto Chic não ia mulher.

Não que fosse lugar mal afamado ou algo parecido. As meninas simplesmente não frequentavam o lugar. Para encontrá-las era preciso ir aos bailinhos do Recreativo no domingo à tarde, ou as sessões do cine São Francisco ali pertinho, ao lado da igreja.

Pois é… Ali no Ponto Chic num desses carnavais dos anos setenta, uma segunda-feira chuvosa sem nada pra acontecer, alguém teve a ideia de sair pela D. Pedro fantasiado de mulher. Já que elas não frequentavam o lugar…

Na base do improviso, o grupo com não mais de dez pessoas, incentivado pelas muitas tulipas de chopp, saiu por ali promovendo uma pequena e comportada algazarra. Pessoal vestido de mulher usando as roupas das namoradas e irmãs, com muito batom e perucas. Coisa de carnaval. Carnaval daqueles tempos.

As bichas

A coisa pegou e, no ano seguinte já eram mais de cinquenta com alguns bumbos e chocalhos. E recebeu um nome. Na falta de ideia melhor, virou o Bloco das Bichas. Tempos depois virou banda.

Neste sábado, começo do pré-carnaval por aqui, a Banda Bicha na avenida Paulo Faccini envolveu nada menos de cem mil pessoas. Cem mil foliões! Da pra acreditar?

Gente animada atrás de um trio elétrico com a cantora Claudia Leite soltando a garganta com entusiasmo. Festa pra ninguém botar defeito. Não teve confusão. Foi tudo nos conformes, beleza de ver.

Ah sim, havia também políticos. Políticos demais querendo aparecer. Mas faz parte.

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