Jânio de Freitas é jornalista desde 1953 quando estreou no Diário Carioca como desenhista. Nasceu em Niterói, no Rio, em 1932 e é considerado um dos mais brilhantes profissionais do país. É colunista e membro do conselho editorial da Folha de S. Paulo, o jornal, entre os grandes, que mais bate no governo Bolsonaro. Não vou aos motivos. Quero, na verdade, falar de Jânio de Freitas.
Num desses domingos, Jânio publicou artigo (“O mau cheiro do golpismo”) considerando o vídeo compartilhado pelo presidente Bolsonaro sobre a manifestação contra o Congresso no dia 15 como um “caminho aberto para a tentativa de golpe”.
Embora num estilo rebuscado que me força muitas vezes a ler uma frase mais de uma vez, Jânio de Freitas não é difícil de ser entendido. Chama atenção para a existência no país de “um estado típico de pré-golpe”. Seria o caso de forças “civis ou militares, em geral ambos” atuarem contra nossa “integridade constitucional”. Ou seja, há golpistas tramando contra o país.
Muito bem. O colunista considera que estamos vivendo momento crítico. Há risco de golpe no ar.
O outro lado
Falo agora de outro jornalista consagrado. Dono de um texto fácil, comunicativo, contemporâneo desde os tempos da revista Veja ainda sob a batuta de Mino Carta. Tempos heroicos aqueles. Do assassinato de Vladimir Herzog e da morte do operário Manoel Fiel Filho. E da censura escancarada.
Augusto Nunes é filho de Taquaritinga e começou cedo como repórter. Não é tão veterano quanto Jânio mas já está beirando os setenta. Foi diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo e passou pelos mais importantes jornais do país. Atuou como âncora do Roda Viva da TV Cultura e hoje comenta notícias na Rádio Jovem Pan.
Augusto acha que essa história de golpe não tem nada a ver. Bolsonaro só compartilhou com seu grupo mais chegado um vídeo a ele encaminhado que elogiava o presidente e convocava para uma “manifestação normalíssima” contra a turma do “toma lá dá cá” do parlamento. E não se constrange em chamar Lula, a quem Jânio defende, de “corrupto e ladrão”.
Augusto Nunes acredita e garante que hoje deixou de existir a negociação indecorosa entre a Presidência e Congresso para aprovação de pautas que interessam ao país. Como nos tempos do mensalão. A gritaria vem daí. Principalmente de um grupo conhecido como “centrão”. Por isso a manifestação do dia 15: “legítima”, diz ele.
Os dois, Jânio de Freitas e Augusto Nunes, são jornalistas sérios. Dignos. Em qual deles acreditar?
É preciso ler e ouvir o que cada um tem a dizer. E fechar com um deles.