Coluna Livre com Hermano Henning

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Trabalhei na revista Veja como repórter durante quatro anos logo depois de ter deixado Guarulhos. Dirigida por Mino Carta, a revista reunia jornalistas experientes, vindos de vários órgãos de imprensa como a Visão, Folha de São Paulo, e principalmente do Jornal da Tarde, dirigido por Mino até receber o convite de Victor Civita, dono da Editora Abril, para criar uma revista semanal de informações, ao estilo de Newsweek e Time, as americanas e a alemã Der Spiegel.

Depois de um início difícil – o país se acostumara com as ilustradas, estilo Cruzeiro, Manchete, que eram publicações de pouco texto e muita foto – a revista que o velho Civita dizia ser a “menina dos olhos”, pegou firme com muito texto e pouquíssimas fotos.

Veja foi, sem dúvida, a mais importante publicação do Brasil. Num mês de setembro de 1976, fui cobrir as eleições na Alemanha, como enviado especial da revista. Em janeiro do ano seguinte fui contratado pela Rádio Deutsche Welle, que transmitia notícias em ondas curtas para o mundo todo.

O que pesou no currículo do então jovem com pouco mais de trinta anos, com mulher e dois filhos pequenos, para trabalhar numa das mais conceituadas emissoras internacionais? O trabalho em Veja.

Posso hoje assegurar que o semanário brasileiro era reconhecido fora do país, da mesma forma que a Rede Globo nos anos 80, 90.

Veja foi uma bela escola. Quem passou por lá sabe. E Mino Carta foi um grande mestre do jornalismo moderno. “Ele nos ensinou a escrever”, ouvi muitas vezes a frase de gente famosa e vitoriosa na profissão. Como Tão Gomes Pinto, um dos melhores textos que já passaram pelas redações de São Paulo, Rio e Brasília. Sempre fiel ao velho companheiro, Tão dizia que trabalhar com o italiano era privilégio. Ficou quase meio século escrevendo ao lado de Mino Carta: Jornal da Tarde, Veja, Jornal da República, Isto é, Carta Capital…

A revista Veja, dona de uma história bonita, cheia de lutas e glórias, que me ensinou a ser repórter, vive momentos esquisitos. Depois da leitura desta última capa, que fala dos vazamentos da turma da Lava Jato, me preocupei. Será que a revista está morrendo?  

Alexandre Pastore, dono de uma das maiores e mais movimentadas bancas de São Paulo, ali em frente à Padaria Real, no Sumaré, não tem nenhuma dúvida.

Vendia, nos bons tempos, trezentas revistas nos finais de semana. Apesar de todo o sensacionalismo desta última edição, até ontem, não havia vendido trinta.

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