Da Redação
O Promotor Público José Carlos Blat, numa conversa com este repórter gravada ontem nos estúdios da Rede Brasil, em São Paulo, garantiu que a proposta de desconstruir as figuras de Sergio Moro e Deltan Dallagnol com a divulgação a conta gotas dos diálogos de juiz e procuradores com origem no site Intercept e cobertura ampla da Folha de S. Paulo e revista Veja, faz parte de um plano orquestrado para acabar com a Lava Jato. E pergunta: a quem interessa? Resposta: políticos corruptos e empreiteiros criminosos.
Arrisquei minha opinião. Disse não acreditar que o jornal e a revista, no caso, seriam cúmplices.
E quanto ao jornalista Glenn Greenwald, o destemido comandante do Intercept?
Difícil dizer. Aparentemente, mais do que jornalista ele se mostra um combatente. Alguém obcecado em destruir a imagem dos personagens de suas histórias, tratando-os como inimigos. A Globo, convidada, se recusou. A Folha e Veja acompanham. Alguns jornalistas independentes seguem também, felizes em receber algumas migalhas do butim ofertado pelo hacker.
Não vejo a Folha, nem Veja, comprometidas com o objetivo de vingar Lula e fazer o jogo dos políticos e empresários corruptos. Mas não se importam.
Alegar descomprometimento com a corrupção me parece outra atitude complicada. Sergio Moro e Deltan Dallagnol não são apenas personagens de uma série de reportagens. São, repito, colocados como inimigos. E salta aos olhos o objetivo de mostrar Lula não como um político corrupto e sim como vítima de uma conspiração.
Mas ele foi condenado, pode pensar o cidadão descomprometido. É corrupto, decidiu a Justiça. Não importa. O procurador do caso dá palestras e cobra por elas, pensou até em montar uma empresa para colocar no nome da mulher. É altamente comprometedor. E nessa história parece saltar a conclusão: o processo que condenou Lula precisa ser anulado. E Lula solto.
Só que com ele, muita gente vai se livrar. “Até o ex-governador do Rio, Sergio Cabral, condenado a mais de cem anos de prisão, corrupto confesso” lembra o promotor Blat. Outra vez: não importa. A Lava Jato precisa acabar.
A divulgação dos diálogos rackeados do celular do procurador Dallagnol, cuidadosamente programada, não se iludam, faz parte de uma campanha travestida de jornalismo. E em nome desse alegado “bom jornalismo” não se admite nem uma investigação do crime de invasão do celular.
O promotor Blat não concorda: “Divulgar, tudo bem, a Constituição garante. Mas o crime de roubo e invasão de privacidade precisa ser investigado e esclarecido”.