Coluna Livre com Hermano Henning

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O Notícias Populares, o NP, jornal que tinha a fama de ser a publicação mais escrachada do Brasil em sua época, ainda nos anos 1900, trazia sempre uma notícia de Guarulhos na primeira página. Não havia exceção: era sempre notícia de crime. Era um dos jornais do grupo Folha, que além da Folha de São Paulo e do NP, publicava também a Folha da Tarde, e a Última Hora. Na Última Hora trabalhava um colega nosso aqui de Guarulhos, Ademir Malavasi. Ademir era editor de primeira página, responsável pela manchete principal da publicação que nos anos setenta ainda era dirigida por Samuel Wainer, um dos maiores jornalistas que o Brasil conheceu, cassado pelo golpe de 64.

Ademir Malavasi era também um dos editores principais do Guaru-News, nome da Folha Metropolitana quando ainda circulava uma vez por semana, na época.  

A gente costumava dizer que Notícias Populares era tão escandaloso na cobertura policial que, se torcido, saía sangue.

Lugar Violento

Um dos fotógrafos mais atuantes do jornal também morava em Guarulhos, Milton Soares. O trabalho de Milton era percorrer as delegacias todos os dias fotografando suspeitos presos e encaminhando as fotos junto com os boletins de ocorrência para a redação do NP, cujos redatores se encarregavam do texto da história, sempre carregando nas tintas. As fotos ganhavam sempre a capa do jornal. Era o “jornalismo popular” que se fazia em Guarulhos.

Outro detalhe: Milton Soares mandava seu material também para o radialista Gil Gomes. As histórias, assim, ganhavam a mídia de forma sensacionalista, pois Gil Gomes era ainda mais radical que os redatores do NP.

Foi fatal: Guarulhos ganhou fama em todo o estado como um dos lugares mais violentos do Brasil. Talvez no Brasil.

Lembrei de tudo isso ao ler a manchete desta Folha em sua edição de ontem (“Guarulhos é a Segunda Cidade mais Violenta do Estado de SP”). A média de homicídios, quase vinte por grupo de 100 mil habitantes, no entanto, não é resultado de exageros dos meios de comunicação. É levantamento do Atlas da Violência com números do ano de 2017. Com 1.349.113 habitantes, dados do último censo, foram 197 homicídios, mais 67 mortes consideradas “homicídios ocultos”, quando não há uma palavra final sobre a causa da morte.

Com tais números é certo que vivemos aqui uma situação bem pior do que aquela do tempo de Gil Gomes e Milton Soares. No fim, a cidade não precisa mais dos dois para figurar nas manchetes. O mega roubo das barras de ouro em Cumbica fala por si.

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