Os fundos de venture capital – que investem em empresas iniciantes –
estão mais seletivos em colocar seu dinheiro em projetos novos de startups e
fintechs. Em meio à pandemia, os empreendedores vão ter de fazer mais com menos
recursos, se quiserem se manter vivos após o período mais crítico da crise.
O ano de 2020 prometia aportes recordes, seguindo o desempenho dos últimos três
anos no País, superando os US$ 3 bilhões realizados no ano passado. A
expectativa do mercado, contudo, é de que haja uma desaceleração dos
investimentos.
Criado há três anos, o fundo Canary tem falado para suas empresas se prepararem
para ficar sem captação, pois é difícil saber quão ativo e líquido o mercado
ficará nesse período de turbulência.
“Achamos que o mais importante é chegar vivo do outro lado da crise. Mais
do que crescer, é importante sobreviver”, disse Marcos Toledo Leite,
gestor do fundo. “Por outro lado, quem sobreviver será visto com bons
olhos no futuro.”
A gigante Kaszek, fundada por dois cofundadores do Mercado Livre, também deve
manter seus investimentos, mas com cautela, diz Santiago Fossati, que comanda
os negócios aqui no Brasil. Com US$1 bilhão sob gestão, o fundo, que tem entre
suas investidas o Nubank, a empresa de logística Loggi e o Quinto Andar, não
deve jorrar o dinheiro em projetos no mesmo ritmo de antes da pandemia.
“Estamos conversando com as startups para entender o cenário e se elas
estão com dinheiro em caixa”, disse Michael Nicklas, sócio do Valor
Capital Group, fundo que olha oportunidades de investimentos entre EUA e Brasil
e tem entre suas investidas a operadora de maquininhas Stone e a academia de
ginástica Gympass
Nicklas continua avaliando novos negócios durante a pandemia, mas com mais
critério.
Com a crise, as startups estão recorrendo às linhas de crédito de bancos
tradicionais, segundo Mathias Teixeira, corporate advisor para empresas de
tecnologia do Itaú BBA. E esse movimento é um aprendizado para os dois lados.
“Empresas tradicionais têm um passado, o que facilita os bancos a mensurar
o risco do negócio. No caso das startups, esse passado não existe.”
Espera
Com a crise da covid-19, a Pier, startup de seguros para celulares em operação
desde setembro de 2018, teve de rever os seus planos de captação.
“Temos uma perspectiva menos favorável para levantar recursos por conta da
dificuldade de acessar os fundos de venture capital”, disse Igor
Mascarenhas, presidente e sócio do negócio. “Mas vamos expandir com o que
temos.”
No InoveBanco, fintech que opera no mercado de maquininhas, a fonte de captação
também secou. A empresa estava em contato com três fundos de venture capital
para levantar R$ 7 milhões, conta Patrick Burnett, sócio da companhia.
Mesmo assim, Burnett decidiu usar caixa próprio para colocar em pé o serviço de
pagamento instantâneo por QR Code e reconhecimento facial por meio de parcerias
com chineses.
Aportes devem reduzir ritmo
Os aportes dos fundos de venture capital em startups somaram US$ 516 milhões de
janeiro a maio deste ano, 19,7% superior ao mesmo período de 2019, segundo a
empresa de inovação Distrito. Ao todo, já foram mapeadas 116 rodadas de investimentos.
Apesar de 2020 já ter movimentado mais de meio bilhão de dólares, é pouco
provável que o primeiro semestre termine com investimento superior ao mesmo
período de 2019.
Em junho passado, Gympass, Loggi e Creditas receberam um total de US$ 681
milhões.
Crise deixa investidor mais seletivo em startups
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