Uma tendência que começa a se desenhar na capital paulista, na vida
pós-home office, é a de múltiplos escritórios para uma mesma empresa. Segundo
Roberto Patiño, diretor da JLL, companhia especializada em propriedades
corporativas, esta será uma forma de reduzir deslocamentos dos funcionários e
também de economizar com aluguel. Isso porque, assim como a taxa de
disponibilidade de imóveis pode variar muito entre as regiões de São Paulo – de
módico 1% a trágicos 55% -, os preços são bastante díspares entre os bairros.
“A gente está vendo um momento de disrupção, um processo de aprendizado
forte e muito rápido durante a pandemia. O home office é uma possibilidade
bastante forte, que está sendo calibrada, assim como a descentralização dos
escritórios”, diz Patiño.
A administradora de planos de saúde Qualicorp está testando novas formas de
trabalhar com sua equipe de 2,3 mil funcionários – chamados internamente de
“Qualis”. “Tivemos muita segurança em mudar porque o nível de
avaliação favorável ao home office que tivemos em pesquisas internas foi de
98%”, explica Flávia Bossolani, diretora de pessoas e cultura da
companhia.
O processo de apostar em um nível bastante elevado de trabalho remoto permitiu
que a empresa devolvesse 12 dos 15 andares que ocupava anteriormente em sua
principal sede – o que resultou na redução do espaço total em mais de dois
terços. Agora, a sede terá apenas 436 posições de trabalho disponíveis – ou
seja, a presença de cada funcionário no escritório terá de ser muito bem
planejada.
A redução de escritórios, no entanto, deverá ser da ordem de 40%, explica a
executiva. Isso porque a empresa está criando uma estrutura de trabalho
separada, em outro local, denominada “espaço do corretor”, que será
dedicada aos vendedores.
Em casa, para sempre. Desta forma, grande parte dos trabalhadores da Qualicorp
vai ficar em casa a maior parte do tempo, com presença no escritório permitida
uma ou duas vezes na semana. Já outros times, como os de atendimento ao
cliente, deverão ser 100% remotos – ou, no termo usado pela Qualicorp,
“home based”.
A companhia fez 800 contratações durante a pandemia, sendo que algumas pessoas
já entraram nessa nova modalidade a distância. É o caso do supervisor de
relacionamento Orlando João do Nascimento, de 38 anos, que entrou na companhia
há seis meses.
Agora confinado à sua “casa/escritório” por causa da pandemia,
Orlando tinha planos bem diferentes para 2020. Depois de ser desligado do
emprego anterior, no fim de 2019, programou-se para tirar um ano sabático.
“Queria viajar, colocar a mochila nas costas, ganhar o mundo.” Quando
deu por si, após a explosão do coronavírus, viu-se sozinho e sem emprego.
Decidiu voltar ao mercado de trabalho.
“Como eu moro sozinho, estava me sentindo muito só nessa pandemia. E assim
que eu arranjei emprego, mesmo estando distante, eu não me senti mais
sozinho”, conta. Além disso, ele gastaria cerca de duas horas no
transporte coletivo para ir de São Miguel Paulista, onde mora, ao escritório
central da Qualicorp. “Agora, eu acordo às 9h30, faço meus exercícios,
tomo café da manhã e estou pronto para trabalhar às 11h. Se puder continuar
assim (para sempre), eu continuo.”
Empresas deverão ter mais escritórios na mesma cidade
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