Rafael Cervone*
Em Guarulhos, segundo maior município paulista e 13º do Brasil em população, com 1,37 milhão de habitantes (IBGE) e o aeroporto internacional mais movimentado do País, há boas razões para se comemorar o Dia da Indústria, 25 de maio, pois o setor é responsável por 26,11% dos empregos formais, paga salário médio de R$ 3.853,73, o maior da cidade, e contribui com 22,57% do Valor Agregado local. Além disso, de acordo com a 5ª edição do Caderno Econômico da prefeitura, tem o 12º maior PIB, com aproximadamente R$ 54 bilhões, e a nona economia industrial do Brasil, somando R$ 11 bilhões nesta atividade.
O parque manufatureiro da cidade é bastante diversificado com numerosas plantas nos ramos de aço, automotivo, couro, brinquedos, eletroferragens, eletromecânico, elétrico, máquinas e equipamentos, gráfico, têxtil, plástico, químico, metalúrgico, artigos de couro e esportivos, brindes, cosméticos, hospitalar, móveis, vidros e usinagens. É um conjunto de empresas que não deixa dúvidas sobre o quanto é prioritário trabalhar pelo fortalecimento e maior competitividade do setor.
Essa uma agenda muito relevante para o País, pois as nações que conseguiram dobrar sua renda média num período de apenas 15 anos foram aquelas que elevaram a participação da indústria a um patamar acima de 20% do PIB. Por isso, precisamos vencer as barreiras que continuam dificultando seu avanço, como o atraso do marco legal, insegurança jurídica, burocracia, impostos exagerados, baixa disponibilidade de crédito e todos os fatores referentes ao chamado “Custo Brasil”.
Não podemos mais perder tempo. Na década recém-terminada, de 2011 a 2020, o mundo cresceu 30% e o Brasil, apenas 3%. Por isso, teremos de realizar em plena crise da Covid-19 o que negligenciamos há muitos anos, a começar pelas reformas estruturais, principalmente a tributária e administrativa, e adoção de uma eficaz política industrial, para que o setor tracione o desenvolvimento nacional.
Os números são incontestáveis quanto ao significado da indústria: apesar de representar 11% do PIB, responde por mais da metade das exportações de bens, 69,2% do investimento empresarial em P&D, 33% da arrecadação de tributos federais, 25% do total nacional de impostos e 31,2% da arrecadação previdenciária patronal; emprega 20,4% dos trabalhadores brasileiros; e é a atividade que mais promove a difusão de tecnologia e produtividade, segundo dados do IBGE.
Porém, o setor enfrenta grave perda de competitividade. Estudo do Movimento Brasil Competitivo (MBC) revelou que produzir no Brasil custa anualmente R$ 1,5 trilhão a mais, cerca de 22% de nosso PIB, do que na média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Precisamos reagir de imediato, inclusive mobilizando as empresas, por meio de nossas entidades de classe no Estado de São Paulo – o CIESP e a FIESP –, para influenciar a modernização das leis que regem a economia e a adoção de uma política industrial eficaz e duradoura. Isso é decisivo para o Brasil crescer de modo sustentável, promover aumento e melhor distribuição da renda e alcançar um patamar mais elevado de desenvolvimento.
Também é fundamental capacitar os recursos humanos atuais e as futuras gerações para as mudanças em curso e o advento da inteligência artificial, internet das coisas, robotização, machine learning e digitalização da economia, cujo advento foi acelerado pela pandemia. Nesse aspecto, a educação, ainda precária no Brasil, tem missão relevante, fator que demonstra o significado do Sesi-SP e do Senai-SP, vinculados à FIESP, exemplos de excelência no ensino, que prestam serviços inestimáveis aos industriários, suas famílias e a toda a sociedade.
Os desafios são muitos. Porém, os empresários de nosso setor são resilientes, capazes de superar adversidades e têm demonstrado muita competência para manter suas empresas vivas e gerar empregos em cenários desfavoráveis. Por isso, apesar das dificuldades atuais e da grave crise relativa à pandemia, celebramos este Dia da Indústria com esperança e a certeza de que a atividade será protagonista de um novo e próspero Brasil. Exemplo desse imenso potencial é o grande voo do parque manufatureiro em Guarulhos nas últimas décadas. E não me refiro à presença do Aeroporto Internacional Governador Franco Montoro, mas sim à capacidade dos industriais de sempre ir além!
*Rafael Cervone é vice-presidente da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).