Em 2020, um novo grupo de startups e empresas de tecnologia viu seu
mercado crescer por causa da pandemia do novo coronavírus: as que fornecem
benefícios flexíveis para outras companhias. A demanda por novos benefícios e
outras formas de usá-los já estava dada desde antes da quarentena – e foi sendo
identificada por várias dessas empresas, que atuavam ou queriam atuar no
segmento. “Era uma tendência que se consolidou com a pandemia”,
avalia Leonardo Bento, gerente da Robert Half no ABC e Baixada Santista.
As restrições e novas necessidades do home office motivaram mais as companhias
a flexibilizarem benefícios – e, às vezes, trocarem por outros -, de um modo
que fizessem mais sentido na nova realidade. As soluções apresentadas pelas
startups, fintechs e empresas de tecnologia para atender a essa demanda foram
variadas: vão desde plataformas que unem todos os benefícios – tradicionais e
extras – num único cartão e aplicativo até as que investem em planos de crédito
e bancárias para empregados não bancarizados.
“Muitas pessoas viram acumular saldos no vale-transporte, por exemplo, que
poderiam ajudar na compra do mês se transferidos para o benefício de
alimentação”, diz o fundador e presidente da Caju Benefícios, Eduardo del
Giglio. A startup começou a operar em 2020 com a proposta de centralizar os
benefícios num único aplicativo e num único cartão. Isso valendo para os
tradicionais e para outras categorias, como educação, cultura e saúde.
Dependendo da empresa e da legislação e acordos sindicais vigentes, é possível
ao beneficiário intercambiar valores entre as rubricas. Assim, pode conseguir
usar o auxílio-gasolina na compra do supermercado, por exemplo. A Caju fechou
seu primeiro ano com mais de mil clientes e 50 mil usuários em sua plataforma
Em agosto, quando tinha 400 clientes e 15 mil usuários, recebeu um aporte de R$
13 milhões.
Demanda por inovações
A Flash Benefícios é outra empresa de tecnologia, com soluções em benefícios,
que avançou na esteira do home office. Desde 2017, Ricardo Salem e os irmãos
Pedro e Guilherme Lane, cofundadores da companhia, pesquisavam o segmento em
conversas com gestores de recursos humanos e empregados de diversas companhias.
Viam demanda por inovações que respondessem às necessidades dos usuários,
diferentes entre si, mas homogeneizadas em soluções pouco adaptáveis.
“(Segundo pesquisa do SPC Brasil), 39% dos colaboradores admitem vender
seus benefícios (para usar de outra forma). Tem um problema de produto
aí”, avalia Pedro Lane.
Em julho de 2019, Pedro e os sócios lançaram a Flash, plataforma integrada com
cartão pré-pago que centraliza os saldos dos benefícios mais tradicionais, como
refeição e transporte, e permite às empresas conceder outros em categorias como
bem-estar e educação, cultura e lazer. Com esse serviço, a Flash mais que
dobrou os seus indicadores durante a pandemia. Com o crescimento, precisou
contratar 75 pessoas no período, passando de 40 funcionários em março de 2020
para 115 em janeiro.
Em comum, essas soluções permitem que as empresas apoiem da educação continuada
dos funcionários ao bem-estar, saúde e aos gastos com farmácia, concedendo um
valor direto nos aplicativos, por exemplo. Ou que subsidiem momentos de
“descompressão” em casa, permitindo, em itens como cultura ou lazer,
que o empregado use uma parte do benefício para pagar a conta da Netflix, por
exemplo.
A plataforma da Flash também funciona como marketplace de parceiros que dão
descontos para os usuários. Redes de alimentação, de bem-estar, farmácias e até
lojas de decoração fazem parte do convênio e chegam a dar 70% de desconto.
Assim, o benefício acaba valendo mais dentro do aplicativo e a economia também
pode ser percebida como benefício.
Esse tipo de oferta é a aposta da Allya, empresa de tecnologia focada em RH,
que também opera no segmento de benefícios, oferecendo um ambiente em que o
empregado pode comprar, com descontos, produtos e serviços de diversas
categorias direto dos parceiros cadastrados no aplicativo. A empresa, que tem
30 mil parceiros e 300 mil usuários, teve uma alta de 32% em seu faturamento em
2020.
A startup pode ainda ajudar as empresas na hora de bolar campanhas de
comunicação. Assim, uma das clientes, logo no começo da quarentena, conseguiu
incentivar os funcionários a equiparem o home office, estimulando compras de
móveis e outros itens pela campanha e com os descontos. Operando desde 2015, a
Allya recebeu um investimento inicial – de investidor-anjo – de R$ 250 mil.
Agora teve novo aporte de R$ 7,5 milhões, liderado pela Domo Invest.
Espaço para crescer
Já a People Club, solução criada pelo Grupo Roit, uma startup de gestão
contábil e tributária, junta numa mesma plataforma o vale-refeição e o
vale-transporte, oferecendo também um clube de compras com descontos. “A
plataforma integra usuários, RH e lojistas, que podem fazer promoção quando
quiserem, baseados em dados de uso, compra e preferência que o aplicativo
oferece”, diz o fundador e presidente do People Club, Renan Araújo.
Para ele, “a ideia do People Club é potencializar esses benefícios já
ofertados”, aumentando o poder de consumo do empregado. Lançada em
setembro, a People Club conta com 14 mil usuários de 150 empresas. Tem 5 mil
parceiros em seu aplicativo. “O momento é bom para startups (desse
segmento). Há espaço, o mercado está comprador de novidades”, diz Berto,
da Robert Half
Home office dá gás a empresas de benefícios
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