Sansão está com saudade. Com mais de 100 dias sem
interagir com visitantes, o orangotango do Zoológico de São Paulo parece ser o
mais ansioso pela reabertura do parque – que deve ser anunciada nesta
sexta-feira, 3, pelo governo do Estado.
Ao notar uma presença humana, Sansão deixa para
trás o seu reforçado café da manhã (com detox de folhas verdes, legumes,
frutas, água de coco e suco de ameixa) para bater no vidro da jaula. É o chefe
dos veterinários do Zoo, Fabrício Rassy, quem primeiro atende ao seu chamado.
Ao se aproximar do vidro, o médico ganha um aceno de Sansão – que imediatamente
começa a imitar os gestos do amigo e mostrar os dentes em aparente aprovação.
Segundo Rassy e outros membros da equipe do Zoo,
esse tipo de interação é comum para Sansão – e acontece principalmente com
crianças. De todo o parque, o orangotango português, de 37 anos, seria o animal
que, provavelmente, mais tem sentido falta do velho normal, do movimento das
alamedas, das fotos, vídeos e excursões.
No Zoo fechado, a quarentena tem sido fértil.
Nos últimos 3 meses, houve uma espécie de “baby boom”. Erinde, a
jovem leoa do parque, deu à luz quatro filhotes – que de tão pequenos ainda não
podem ser expostos. Iduma, o pai leão, também não quer saber de dar publicidade
aos futuros astros. Além dos leões do parque, a geração de
“quarentinos” está completa com outro leãozinho nascido no Zoo
Safari, 9 dragões-barbado (lagarto), duas araras-azuis-de-lear e cinco
suricatas.
A quarentena no Zoo também mudou os horários de
refeição da Jiboia do Rabo Vermelho. Quando o parque está em horário de visita,
a jiboia não se refestela com um porquinho da índia (sim, um fofo porquinho da
índia). Segundo o parque, a cena pode impressionar as crianças e se flagrada
precisa ser acompanhada da explicação de um profissional. Por isso, com o Zoo
aberto, os horários de almoço da jiboia são rígidos (para evitar plateia). Mas,
ultimamente, a cobra está comendo em períodos mais flexíveis.
Rassy explicou que para diminuir o fluxo de funcionários,
sem afetar o bem-estar dos animais, os cerca de 350 colaboradores foram
escalonados ao longo do dia. A interação dos funcionários com os animais ficou
ainda mais restritiva – com a obrigatoriedade do uso de máscaras e de outros
equipamentos de segurança. Os cuidados são para evitar qualquer possibilidade
de contaminação – mesmo sem registro da covid-19 entre animais do Zoológico. Um
alerta foi dado depois que, em abril, tigres e leões do zoológico no Bronx, em
Nova York, testaram positivo para o coronavírus.
Qualidade de vida
Seria possível afirmar que o período em que o
Zoológico permaneceu fechado foi positivo para a saúde dos animais? A
professora do curso de Ciências Biológicas e pesquisadora responsável pelo
Laboratório de Taxonomia e Ecologia Animal na Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Paola Lupianhes Dall’Occo, diz que a diminuição da poluição sonora e
visual podem, sim, ter trazido benefícios aos animais.
“Além do benefício eventual, nós precisamos
aproveitar esse período de quarentena para trabalhar na educação de quem visita
um zoológico. É comum ver crianças gritando e batendo nos vidros dos animais.
Ou, em alguns casos, gente que joga comida para animais. As instituições
precisam investir em ações educacionais para que isso não aconteça”,
disse.
Neste sentido, Paola afirma que a quarentena
pode ter tido uma influência positiva para alguns animais. Ainda assim,
pondera: “Por outro lado, existem animais que estão acostumados com a
presença humana. A falta desses estímulos também pode ser um problema.”
A professora do curso de ciências biológicas do
Mackenzie Mônica Ponz Louro diz que, como na maioria dos casos são animais que
já nasceram em cativeiro ou foram resgatados em apreensão, eles estariam
acostumados com a presença humana, condicionados a ela e, em alguns casos,
podem até sentir falta. Por outro lado, outros animais podem se sentir mais
protegidos e menos sujeitos a estímulos externos quando afastados do convívio
com os humanos
A reabertura
Quando o Zoo estiver aberto ao público, algumas
mudanças poderão ser notadas. A capacidade máxima será de 6 mil visitantes
(antes da pandemia, em dias movimentado, recebia até 15 mil). Todos os
visitantes (maiores de 2 anos) serão obrigados a usar máscaras. E, logo na
entrada do parque, o visitante vai encontrar um tapete para a higienização dos
pés.
Isolado no zoo, Sansão sente falta de visitas
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