“Hoje, por volta de 1h30 da manhã, senti uma
pontada muito forte no peito, ajoelhei ao pé da cama e falei: ‘Vou orar pela
minha mãe’. E disse: ‘Senhor, por favor, salve a minha mãe, pois eu a amo e não
quero perdê-la’.” É assim que Marina Angélica Reversi, de 27 anos,
moradora de Guapiaçu, no interior de São Paulo, inicia o relato do seu drama.
Em dez dias, ela perdeu um irmão, a mãe e a avó – todos vítimas da covid-19.
O irmão, o auxiliar de produção Jaiel Giezi
Reversi, de 29 anos, foi o primeiro a morrer, no dia 23 de maio, cinco dias
após a internação e dois depois de ser entubado. Ele tinha diabete e
hipertensão. Quando Jaiel morreu, a avó de Marina, a catadora de recicláveis Diva
Marques Moreira dos Santos, de 80 anos, já estava internada após sofrer um
enfarte. No hospital, foi diagnosticada com a covid-19 e morreu no dia 30.
Internada, a filha dela e mãe de Marina, Marlene Moreira dos Santos, de 51
anos, não pode sequer acompanhar o enterro. Marlene morreu nesta segunda-feira.
Com “algo engasgado na garganta”,
Marina conta que chorou muito e se resignou. “Se o Senhor levar a minha
mãe, eu ainda vou continuar te amando”, disse, e se deitou. Mesmo tomando
remédio, não conseguiu dormir. Às 2h15 recebeu ligação do Hospital de Base de
Rio Preto informando que sua mãe teve uma parada cardíaca e não resistiu.
“Naquele momento lembrei que tinha orado minutos atrás e ela ainda lutava
pela vida, mas quando a entreguei, ela descansou”, disse.
“Minha mãe era uma pessoa forte, guerreira,
que cuidou da gente com muito amor. Foi a pessoa mais incrível que conheci na
vida, assim como era minha avó. Eram mulheres incríveis.” Marina conta que
ela e a filha, que gostava de dormir com a avó, também pegaram o coronavírus.
“Essa doença é horrível, não perdoa ninguém.”
Marina é vendedora, mas está desempregada. Ela
teve ajuda da prefeitura para cobrir os custos dos sepultamentos. Guapiaçu,
cidade de 21.115 habitantes, registrou 36 casos e 4 mortes pelo coronavírus –
incluindo os três parentes de Marina.
Jovem perde mãe, avó e irmão: ‘essa doença é horrível’
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