Muito se fala sobre a importância da desconstrução de estereótipos, uma busca que, de forma geral, vem avançando cada vez mais com o passar dos anos. No entanto, quando se trata das semelhanças e diferenças entre homens e mulheres, algumas características parecem realmente predominar em determinados gêneros. E essas particularidades extrapolam os limites dos indivíduos e alcançam as relações, sejam elas amorosas, familiares, de amizade ou de trabalho.
No ambiente de trabalho, espaço onde também se criam laços de amizade, é possível perceber e analisar algumas das particularidades dessas relações. Mesmo no âmbito profissional, os pilares das amizades para as mulheres e para os homens são diferentes, é o que mostra uma pesquisa da Onlinecurriculo, plataforma de currículos online. Enquanto para 57% das mulheres o maior benefício de se ter amigos no trabalho é o apoio emocional, esse número cai para 43% para os homens.
Entre as vantagens, as mulheres também indicaram a redução da ansiedade (29%) e o auxílio na resolução de conflitos (47%) que, para os homens, ficam em 19% e 34%, respectivamente.
Profissional ou pessoal?
Existem diferentes opiniões sobre como se deve manter as relações com os colegas dentro do espaço de trabalho, podendo elas serem estritamente profissionais ou com diferentes aberturas para a vida pessoal.
Mesmo que homens e mulheres gostem de desenvolver amizades no trabalho em igual porcentagem (35%), de forma geral, 38% dos homens disseram que tendem a manter relações de forma estritamente profissional, enquanto 29% das mulheres preferem as relações dessa forma. Por outro lado, quando se fala de desenvolver as relações de forma levemente pessoal, mulheres aparecem com maior porcentagem (36%) se comparadas com os homens (27%).
Amanda Augustine, especialista em carreiras da Onlinecurriculo, analisa as diferentes relações no ambiente profissional. “Mesmo que já possamos observar a quebra de muitos estereótipos específicos, ainda levará tempo para que se quebrem alguns desses paradigmas completamente. O ambiente de trabalho, por muitos anos, foi predominantemente masculino, e as mulheres ainda buscam seu local de igualdade nesses espaços”, explica ela.
“Em relação às amizades, mesmo que pareça clichê, mulheres realmente tendem a fortalecer suas conexões de forma mais pessoal e emocional. Seja pela construção social do papel da mulher ou por características atreladas ao feminino, o importante é perceber que essa maneira de desenvolver as amizades, através do suporte, da atenção e do cuidado, é muito importante para que as mulheres se fortaleçam, dentro e fora do espaço de trabalho”, analisa Augustine.
O que fortalece as amizades
Amizades são relações que se fortalecem com o tempo. No trabalho, muitas delas se criam pela convivência diária, pelo compartilhamento dos problemas do trabalho ou pela parceria nas atividades do ofício. Contudo, é preciso mais do que a presença no dia a dia para que as conexões cresçam e perdurem.
Mas o que é essencial para as amizades? A compatibilidade de algumas referências certamente faz a diferença. A identificação de gostos pessoais, como filmes, séries e músicas, é muito importante para as mulheres (57%), mas também aparece como algo bastante significativo para os homens (42%).
Já no que diz respeito ao apoio emocional, novamente as mulheres aparecem com uma porcentagem de destaque, com 38% indicando os desabafos como essenciais para fortalecer uma amizade, enquanto, para os homens, o compartilhamento de questões pessoais aparece com 28%.
No entanto, alguns pontos aparecem como essenciais nas amizades para ambos os gêneros. Pontos como participação em um mesmo projeto de trabalho, fofocas e troca de memes aparecem em igualdade para homens e mulheres.
“É interessante perceber que algumas respostas realmente validam certos estereótipos de gênero, especialmente quando se fala em pontos mais emocionais, como os desabafos. Essas trocas profundas são conhecidas por marcar as amizades femininas. Dito isso, existem certos assuntos que são claramente universais, como as fofocas e os memes, que com certeza aproximam as pessoas e que também podem trazer leveza para as relações – especialmente no trabalho”, comenta Augustine.
Do trabalho para a vida
Mas será que os brasileiros levam as amizades de trabalho para a vida? O estudo mostra que sim. O que muda entre os gêneros, no entanto, é a quantidade de amigos que se mantém. Homens indicaram manter um número maior de amizades, com 37% dizendo preservar mais de cinco amigos de empregos anteriores, número que cai para 23% para as mulheres.
Já as mulheres, parecem seguir a lógica dos “poucos e bons”, pois 34% responderam que seguem com poucas amizades de trabalhos antigos, permanecendo com uma ou duas, porcentagem que cai para 25% quando em relação aos homens.
Dentro e fora da empresa
Para além do espaço das empresas, as amizades construídas no trabalho também podem extrapolar o ambiente profissional. E quando se fala nas programações que constituem essas relações, existem algumas que se destacam e que vão para além do conhecido happy hour entre colegas.
Mulheres parecem investir mais nas atividades com os amigos fora do trabalho. Entre as programações preferidas, aparecem saídas para almoços e jantares, indicado por 57% das entrevistadas, enquanto os números caem 37% para os homens. Festas e celebrações pessoais também são mais comuns entre mulheres (47%) do que entre homens (34%).
No entanto, os homens ficam à frente quando as atividades envolvem a prática de esportes ou de jogos. A programação foi destacada por 24% dos entrevistados, dado menos expressivo entre as mulheres (10%).
“Novamente, vemos a validação de alguns paradigmas. Podemos analisar os dados de uma perspectiva em que as mulheres mantêm menos conexões, mas mais profunda com amigos de trabalho. Por outro lado, os homens permanecem com mais amigos, mas com um tom mais casual. Os números fazem sentido também quando pensamos nas programações preferidas de cada gênero”, analisa Augustine.
Mas nem tudo “são flores”
Tanto amizades quanto relações de trabalho não são sempre tranquilas, pelo contrário. Conflitos fazem parte dos diferentes e vínculos, mas também podem vir para o amadurecimento das conexões. Profissionalmente, a discordância, com frequência, é positiva, pois traz diferentes pontos de vista para as situações, apenas é necessário que se meça a forma como as opiniões são apresentadas.
No trabalho, homens já tiveram mais conflitos por causa de amizades (33%) do que as mulheres (25%). As principais motivações masculinas nos desentendimentos são questões envolvendo dinheiro e questões amorosas.
“A pesquisa nos mostra que as amizades dos ambientes de trabalho não se diferenciam tanto das de outros espaços. São as extensões das características dos gêneros observadas nos diferentes grupos sociais. Em relação aos padrões, também podemos perceber as desconstruções, que são essenciais no universo corporativo”, explica Augustine.
“De qualquer forma, o rompimento dos paradigmas está menos relacionado com a perda dos atributos relacionados aos gêneros, mas, sim, à aceitação dessas particularidades dentro de cada um. E é isso que traz o enriquecimento tão necessário e tão buscado atualmente no mundo profissional”, conclui ela.