No início do período de isolamento por causa do
coronavírus, a professora Juliana Duarte, de 40 anos, chegou a pensar que as
aulas remotas da filha Laura, de 8 anos, eram parte de uma situação temporária.
Quase três meses depois e sem previsão de retorno das atividades escolares, ela
já fez uma série de adaptações na rotina e em casa para que o processo seja
produtivo sem desgastar a criança. Para enfrentar o desafio de manter os
pequenos envolvidos com as atividades, pais e escolas estão se reinventando e
fortalecendo o diálogo e brincadeiras, como gincanas para encontrar objetos em
casa e revirar os álbuns de fotos da família.
O desafio é maior para os alunos mais novos, dos
ensinos infantil e fundamental 1, que nem sempre se adaptam às tarefas
realizadas nas plataformas online. As escolas não abandonaram as aulas com
conteúdos, mas estão apostando em atividades lúdicas e oferecendo atendimento
individualizado não só para tirar dúvidas, mas para debater as dificuldades
enfrentadas pelas famílias.
Uma das dificuldades iniciais enfrentadas por
Juliana era manter a filha concentrada. “Agora acho que está mais
tranquilo do que no começo. A adaptação foi mais difícil. Eu e meu marido
estamos trabalhando e, no início, ela ficava na sala perto da gente. Mas não
era bom, ela acabava se dispersando.”
A solução encontrada pela família foi separar um
espaço só para os estudos. “Também trocamos o celular por um notebook.
Assim, ela pode ver melhor os professores e os colegas.” Laura aprovou as
mudanças. “Prefiro ficar no escritório, porque é mais confortável. E o
celular era chato, porque tinha de ficar segurando.”
Juliana conta que a escola também se adaptou para
evitar que as atividades de casa fossem muito complicadas e sobrecarregassem os
pais, que têm se dividido entre o home office e os cuidados com os filhos.
“As propostas mais complexas estão sendo
feitas com as professoras. Eles têm o tempo de aula e 20 minutos de plantão de
dúvidas. Para casa, a escola ensina brincadeiras, jogos, apresenta vídeos para
vermos juntos. Sou da área, mas uma coisa é o papel de mãe e outra é o de
professora”, conta a mãe.
Motivação
Orientadora educacional do ensino fundamental 1
da Stance Dual School, Patrícia Sampaio conta que a escola teve de ser
reconstruída para manter a motivação das crianças.
“Tivemos de fazer a seleção e reorganização
de conteúdos. O tempo de aula não é mais o mesmo. Eram oito horas, mas as
crianças não conseguem ficar esse tempo todo em frente à tela, e também não
queremos isso. Adotamos ferramentas para promover uma interação mais ativa, de
modo que os alunos pudessem gravar vídeos e voz. E tivemos de considerar um
tempo para falar sobre afeto e convivência, porque o contexto é diferente e
desafiador”, afirma.
Atividades com movimento não foram deixadas de
fora. “Eles precisam ter tempo para brincar. Na educação física, estamos
fazendo gincanas para as crianças procurarem objetos em casa, como uma colher
de pau, por exemplo, fazer polichinelos. Tudo que elas possam fazer dentro de
casa”, conta Patrícia.
As gincanas também são uma proposta do Colégio
Equipe. “As crianças foram divididas em equipes e têm de achar a foto mais
antiga, tirar foto com a cor da equipe, ajudar na casa. A linha da cobrança não
é o melhor caminho. Este é um momento de diálogo e, se faltar conteúdo, a gente
repõe depois”, explica a diretora escolar Luciana Fevorini.
As atividades têm sido realizadas em grupos
pequenos e a escola fortaleceu a relação entre pais e professores. “É mais
produtivo trabalhar com grupos menores e encontros mais curtos. E estreitou
muito os canais com os pais. Agora, eles trocam e-mails com a professora, há
conversas por videoconferência.”
Após o recesso das aulas em maio, o Colégio
Santa Maria enviou kits de atividades para a casa dos alunos para incentivá-los
com literatura, arte e desafios corporais.
Karine Ramos, orientadora pedagógica da educação
infantil da escola, diz que, na abordagem sobre a covid-19, a escola utiliza a
transparência para falar sobre o tema. “Estamos atuando de forma
verdadeira e esperançosa com enfoque nos cuidados que precisamos ter e a
necessidade de cuidarmos uns dos outros ficando em casa para que possamos
voltar o mais breve possível.”
Motivação na escola em pleno isolamento
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