Da Redação
Pesquisadoras ocupam 50% do corpo de pesquisadores científicos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, na Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), que coordena os seis Institutos de pesquisa paulista da área. Há mulheres na liderança de três deles. Os números constam em levantamento realizado para lembrar o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro.
A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e ONU Mulher para promover o acesso integral e igualitário da participação de mulheres e meninas na ciência.
Na Secretaria da Agricultura elas são engenheiras agrônomas, biólogas, economistas, engenheiras de alimentos e diversas outras formações de desenvolvem pesquisas em agricultura, pecuária, pesca e aquicultura, economia agrícola, sanidade e processamento de alimentos e que contribuem ativa e diretamente para o crescimento do setor do agronegócio no Estado e em todo o Brasil.
Além de serem mais de 50% do corpo técnico de pesquisadores da APTA, formado por 515 cientistas, as mulheres ocupam dentro da Agência cargos de liderança, tanto na diretoria dos Institutos, mas também na assessoria técnica e direção de centros de pesquisa. No Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), por exemplo, todos os seis centros técnicos são dirigidos por mulheres.
Pesquisadora do ITAL há mais de 35 anos, Eloísa Garcia encara como uma grande satisfação o desafio de ser a primeira mulher a estar no posto de diretora-geral do Instituto, cargo que ocupa desde 2019. “A presença feminina é muito forte na pesquisa porque há mentes mais abertas, pessoas com visão mais inovadora: as mulheres têm mais facilidade de se desenvolverem e subirem na carreira”, afirma.
No mundo
Segundo dados do Instituto de Estatística da Unesco, no mundo apenas 28% dos pesquisadores são mulheres, que continuam sub-representadas nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. No campo científico, segundo a organização, elas também estão sub-representadas nas decisões políticas tomadas no mais alto nível da pesquisa.
A bióloga Ana Eugênia de Carvalho Campos considera importante a participação cada vez maior das mulheres em profissões estratégicas, como a pesquisa científica e na ocupação de cargos de liderança. Com experiência na assessoria técnica da direção do IB por 12 anos, na diretoria do Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto desde 2016, e na direção do IB desde 2019, Ana Eugênia consegue perceber na prática como as mulheres podem contribuir para o avanço do conhecimento e também na gestão das instituições científicas.
“Dizem que as mulheres possuem a capacidade de fazer diversas coisas ao mesmo tempo. Que estamos sempre atentas, que somos curiosas e que conseguimos tomar decisões com rapidez. Todas essas características são importantíssimas para um gestor e para um cientista”, diz.
A visão é compartilhada por Priscilla Rocha Silva Fagundes, diretora do Instituto de Economia Agrícola (IEA). “Sou formada em engenharia agronômica e venho de uma turma que tinha poucas mulheres. O campo sempre foi visto como um ambiente masculino, apesar da mulher sempre ter uma participação importante dentro das propriedades rurais. Estamos, porém, ocupando cada vez mais lugar no setor dos agronegócios e na pesquisa científica. Temos contribuído muito para aproximar o rural do urbano e mostrar a força do setor dos agronegócios”, afirma.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Esalq-USP) mostram que de 2004 a 2015 o total de mulheres trabalhando no agro aumentou 8,3% e a participação da mulher no mercado de trabalho do agronegócio cresceu consistentemente no período, passando de 24,1% para 28%.
As brasileiras que sequenciaram o genoma do coronavírus
O genoma do SARS-Cov-2, causador da doença em circulação internacional, foi sequenciado no Instituto Adolfo Lutz, laboratório estadual de referência para o Brasil. O trabalho foi concluído na sexta-feira (28), apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid em São Paulo. E na equipe também há a participação feminina.
Segundo a pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus, do Instituto de Medicina Tropical, o sequenciamento por nanoporos (poros em escala nanométrica) foi feito em um dispositivo portátil inovador lançado pela startup britânica Oxford Nanopore Technologies. Ele se conecta a um software que funciona como uma “tecla SAP”, ou seja, é capaz de “traduzir” o genoma.
“Desde a década de 1970 se faz sequenciamento genômico e a ideia era fazer sequenciamento em campo e trabalhar em tempo real. Esse sequenciador é menor que um celular e conectado a um computador por meio de um cabo USB. Consegue fazer um sequenciamento da célula de fluxo, como se fosse um chip onde estão os nanoporos. Dentro dele, colocamos as sequencias da amostra que vai ser “lida” ao passar pelos poros”, explica a pesquisadora.
O genoma completo do vírus foi disponibilizado à comunidade científica internacional. Os autores que contribuíram para a pesquisa científica são Jaqueline Goes de Jesus, Claudio Sacchi, Ingra Claro, Flávia Salles, Daniela da Silva, Terezinha Maria de Paiva, Margarete Pinho, Katia Correa de Oliveira Santos, Felipe Romero, Fabiana dos Santos, Claudia Gonçalves, Maria do Carmo Timenetsky, Joshua Quick, Nick Loman, Andrew Rambaut, Ester Cerdeira Sabino, Nuno Rodrigues Faria.
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