O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira, 22, em
discurso gravado e exibido na Assembleia-Geral da Organização das Nações
Unidas, que a “paz não pode estar dissociada da segurança”. O chefe
do Executivo reafirmou o compromisso brasileiro com os ideais da ONU, em
especial a preservação dos direitos humanos. “Como um membro fundador da
ONU, o Brasil está comprometido com os princípios basilares da Carta das Nações
Unidas: paz e segurança internacional, cooperação entre as nações, respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais de todos”, afirmou.
Para Bolsonaro, a liberdade é o “maior bem da humanidade” e o
terrorismo deve ser repudiado. “A cooperação entre os povos não pode estar
dissociada da liberdade. O Brasil tem os princípios da paz, cooperação e
prevalência dos direitos humanos inscritos em sua própria Constituição, e
tradicionalmente contribui, na prática, para a consecução desses
objetivos.”
Reforçando a pauta conservadora do seu governo, Bolsonaro afirmou, no final do
pronunciamento, que “o Brasil é um país cristão e conservador e tem na
família sua base”, além de fazer um apelo em defesa da religião cristã.
“Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa
e pelo combate à cristofobia”, disse.
Oriente Médio
Bolsonaro afirmou que vê um momento propício a “abertura de novos
horizontes, muito mais otimistas para o futuro do Oriente Médio”. “Os
acordos de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, e entre Israel e o
Bahrein, três países amigos do Brasil, com os quais ampliamos imensamente
nossas relações durante o meu governo, constitui excelente notícia”,
declarou.
Como já fez antes, o mandatário elogiou o “Plano de Paz e
Prosperidade” lançado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Segundo Bolsonaro, o plano tem “uma visão promissora para, após mais de
sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do conflito
israelense-palestino”.
“A nova política do Brasil de aproximação simultânea a Israel e aos países
árabes converge com essas iniciativas, que finalmente acendem uma luz de
esperança para aquela região”, acrescentou.
O presidente destacou ainda a atuação humanitária brasileira na Operação
Acolhida, que recebe venezuelanos na fronteira com o Brasil em Roraima, e
prestou solidariedade ao povo libanês. “Também quero reafirmar minha
solidariedade e apoio ao povo do Líbano pelas recentes adversidades
sofridas.”
Fome
No discurso Bolsonaro destacou que apesar da crise mundial,
a produção rural no Brasil não parou. “O homem do campo trabalhou como
nunca, produziu, como sempre, alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas. O
Brasil contribuiu para que o mundo continuasse alimentado”, disse. Ele
citou que caminhoneiros, marítimos, portuários e aeroviários mantiveram ativo
todo o fluxo logístico para a distribuição interna de produtos e alimentos e
também para a exportação.
“Nosso agronegócio continua pujante e, acima de tudo, possuindo e
respeitando a melhor legislação ambiental do planeta”, disse, voltando às
críticas de que “mesmo com todas essas iniciativas, o Brasil é vítima de
uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o
Pantanal”.
Antes, Bolsonaro afirmou que a pandemia do novo coronavírus deixou a lição de
que uma nação não pode ter dependência para a produção de insumos e meios
essenciais para a sobrevivência.
“Somente o insumo da produção de hidroxicloroquina sofreu um reajuste de
500% no início da pandemia. Nesta linha, o Brasil está aberto para o
desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação, a exemplo da indústria 4.0,
da inteligência artificial, nanotecnologia e da tecnologia 5G, com quaisquer
parceiros que respeitem nossa soberania, prezem pela liberdade e pela proteção
de dados”, frisou.
Meio Ambiente
Bolsonaro rebateu críticas sobre a forma como o governa lida
com a questão ambiental. O chefe do Executivo brasileiro afirmou que o País é
vítima de “uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a
Amazônia e o Pantanal”.
“A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de
instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que
se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o
objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil”, afirmou.
Como o Estadão/Broadcast adiantou, pressionado por investidores e
organizações internacionais, Bolsonaro iria mesmo usar seu pronunciamento para
tentar reverter a imagem negativa do País sobre a preservação ambiental, em um
momento em que o Brasil vive alta nos índices de desmatamento na Amazônia, além
de enfrentar incêndios na região e na área do Pantanal.
“Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu
interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno
leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de
sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, disse.
Bolsonaro afirmou que mantém uma política de “tolerância zero” para
crimes ambientais. “Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a
regularização fundiária, visando a identificar os autores desses crimes”,
acrescentou.
O mandatário admitiu dificuldades no combate aos crimes ambientais na região
por causa do extenso território da Amazônia e destacou que o governo trabalha
para ampliar e aperfeiçoar “o emprego de tecnologias” e operações no
local.
O presidente comentou ainda as queimadas no Pantanal, que já atingiram 15% da
região, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
destacando razões para os incêndios. “As grandes queimadas são
consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa
orgânica em decomposição”.
Óleo
Bolsonaro citou ainda a mancha de óleo que atingiu a costa brasileira no ano passado e a atribui à Venezuela. “Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo”, disse.
O chefe do Executivo ressaltou que o País respeita a liberdade de navegação estabelecida em convenção da ONU, mas que “as regras de proteção ambiental devem ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade”.