O gato que cheirava – Roberto Samuel

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Roberto Samuel

A curiosidade matou o gato e os gatos jovens são naturalmente mais curiosos, assim correm maiores riscos do que os velhos felinos de armazém. Mas cá entre nós, uma juventude sem risco, não é uma mocidade bem vivida. É neste período que acontecem as maiores aventuras, temos mais coragem de enfrentar o desconhecido. Afinal nessa idade tudo é novo, tudo é maravilhoso. Queremos experimentar, conhecer, nos arriscar, temos fome de viver, temos pressa. E lá no passado realizamos nossas maluquices, largamos romances inacabados, as insanidades, os erros e as muitas dores. Vez por outra nos deixamos voltar ao passado onde largamos alguma coisa por terminar, seja por covardia, orgulho ou obra do destino.

Na adolescência é mais fácil ter contato com as drogas. Ela parece nos dar a velocidade que sonhamos. No fundo sabíamos dos perigos e era isso que nos animava a experimentá-las. Um fumava maconha, outro cheirava cocaína, tomava LSD, chá de Lírios, anfetaminas. Vi jovens cheirando cola e solventes. Outros nunca chegaram nem perto. Por motivos genéticos ou psicológicos, com o tempo uns se livraram do vício, outros jamais conseguiram vencê-lo. Hoje há um exército de zumbis sonhando com uma liberdade que pode nunca chegar. Vítimas de sua curiosidade

Atualmente temos muitas drogas liberadas: álcool, tabaco e diversos fármacos. Liberar o uso de maconha e cocaína seria apenas mais algumas no mercado. Os mais espertos sempre darão um jeito de ganhar dinheiro vendendo felicidade em pó, em pedra, em comprimido ou fumaça.  Estamos cercados de usuários e pequenos traficantes. Como em tudo neste mundo os mais frágeis são os que mais sofrem, a lei da selva, dos mais fortes e preparados ainda prevalece e duvido que algum dia seja revogada. Afinal, nem todos são fortes, nem todos têm motivos para seguir em frente.

Infelizmente a vida é complicada. Nos machuca, maltrata, um cigarrinho ajuda a relaxar, uma cervejinha, um tapinha só não fará mal. Ah vou só experimentar para desanuviar a mente. É só uma viagem, sempre quis conhecer essa coisa de ácido. Nossa!!! É bom mesmo! Eu paro quando eu quiser, afinal eu mando em mim! Acho que preciso de ajuda! Não! Quero ficar só! Não preciso de ninguém!

A cobiça de ter uma vida isenta de problemas e de dores, a solidão mecanizada da vida virtual, a nossa autocobrança de ser alguém e a pressa em encontrar uma solução embalada e rápida, nos levam a falsas soluções. A anestesia das drogas, essa fuga, essa procura por dormência, por um alívio nem que seja momentâneo nos rouba a realidade. Caso a maconha, o crack, a cocaína sumissem de vez, a paz viria com outros entorpecentes em uma viagem temporária aos anos que éramos gatos curiosos e sentíamos invencíveis.  

Para alguns a vida parece não ser o suficiente! Eles precisam de mais! O mundo todo parece estar contra ele, nada dá certo. O ser humano tem muitos problemas mentais, fragilidades psicológicas, fraquejas diversas, amores desfeitos, perdas emocionais e uma cerveja ajuda a esquecer, um cigarro de maconha, uma pedrinha de crack, uma carreira de pó apaga os problemas em segundos. Ah! Mas o preço é tão caro, elas levam tudo; até a alma. Amigos seria uma opção mais saudável, mas eles são tão raros hoje em dia.

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