Na próxima terça-feira (26), às 19h, acontece a primeira palestra aberta ao público do Festival de Cinema “FILME POSSÍVEL” – evento 100% online e gratuito viabilizado pelo Funcultura de Guarulhos e pela Lei Aldir Blanc, que promove o audiovisual em Guarulhos com cursos, filmes e networking. A premiada produtora, diretora e roteirista Juliana Vicente vai falar sobre o tema “Cinema do Possível – Furando Bolhas”.
O painel trará experiências vividas por ela durante sua carreira no audiovisual, que desde o início fura bolhas para ocupar espaços antes impensáveis para alguém com suas características. “A Preta Portê Filmes é uma produtora preta, indígena e LGBTQI+. Produzimos, há 11 anos, filmes e séries de relevância social e sem fazer concessões para o mercado do ponto de vista do conteúdo. Disputamos a narrativa dentro do mercado audiovisual mesmo que, para isso, tenhamos que desenvolver outras maneiras de produzir, para tornar nossa missão possível”, explica, ao falar da produtora que ela fundou e com a qual produziu obras premiadas.
Entre elas, está a série documental “Afronta!”, disponível na plataforma de streaming Netflix, e que conta histórias de nomes como o rapper Rincon Sapiência, a atriz Dani Ornellas e as cantoras Anelis Assumpção, Liniker e Karol Conka. Atualmente Juliana desenvolve um documentário sobre a carreira do grupo de rap Racionais MCs.
Para o idealizador do “FILME POSSÍVEL”, o cineasta Guilherme Severo, Juliana é uma referência para qualquer realizador. “Ela é uma inspiração sobretudo para aqueles que têm a vontade de produzir trabalhos relevantes nesses tempos. Ter a Juliana abrindo as atividades do festival é um motivo de orgulho muito grande para a gente, pois além de ser uma das realizadoras mais importantes da atualidade, a sua visão sobre o cinema e sobre a vida dialogam muito com a essência do nosso festival. Ela faz justamente o que quero fazer com o FILME POSSÍVEL: fomentar novos centros promissores de produção audiovisual, fora do mainstream. Focar o olhar em novas formas de se produzir. Usando ferramentas e técnicas que aproximem futuros realizadores de projetos possíveis de serem tirados do papel”, apontou.
A negritude avança, apesar da resistência
A luta dos negros por equidade, espaços e oportunidades é antiga. No entanto, essa luta ganhou força após a morte de George Floyd, nos Estados Unidos, em 2020. Para Juliana, não dá para saber o quanto falta para que a equidade entre as raças seja alcançada de fato. “Não tenho essa resposta. Mas estamos fazendo a nossa parte, movimentando e multiplicando. A resistência branca é muito alta. A branquitude tem medo de perder privilégios. Por isso, a negritude avança, apesar da resistência. Mas é uma luta complexa, sobretudo no Brasil, um país que teve o tema do racismo tão abafado e maquiado por tanto tempo que fez o reconhecimento identitário ficar tão confuso, mesmo sendo uma população majoritariamente negra”.
Em suas atividades como cineasta, Juliana enfrentou e ainda enfrenta dificuldades por causa da cor de sua pele. “Racismo é todo dia. Está na estrutura do sistema brasileiro. A gente não supera. Mas avançamos, apesar do racismo”, pondera.
“Às vezes eu ainda me abalo. Mas a cada dia junto mais ferramentas para acreditar que o que fazemos é o oxigênio para o projeto de mundo no qual eu acredito. Para o projeto de nação brasileira no qual eu acredito. Essa crença se apresenta como força para seguir com alegria. Isso dá força e vontade”, completa.
Quem é Juliana Vicente
A produtora Juliana Vicente estudou Cinema na FAAP e na EICTV, em Cuba. Foi convidada para participar, como diretora, do Berlinale Talents 2015. Dirigiu “Cores e Botas”, curta exibido em mais de 50 festivais no Brasil e no mundo. Foi convidada para participar do programa internacional “Why Poverty?” com o documentário “Mauá: Luz ao Redor”, uma coprodução Brasil/África do Sul, exibido e distribuído em mais de 60 canais de televisão pelo mundo. Realizou o clipe “Mil Faces de Um Homem Leal – Marighella”, dos Racionais MCs, vencedor do Clipe do Ano no VMB (MTV, 2012). Em 2014 estreou o documentário “Escola das Águas: o Desafio Pantaneiro”, e, em 2015, o documentário “As Minas do Rap”, ambos em coprodução com o Canal Futura. Como diretora, realizou a 13ª temporada da série “Espelho”, de Lázaro Ramos, exibida no Canal Brasil.
Como produtora, realizou mais de 40 filmes entre curtas, médias e longas-metragens. Com mais de 100 prêmios nos principais festivais do mundo, em 2015 foi coprodutora de “A Terra e A Sombra”, ganhador do Caméra D’Or no Festival de Cannes. Em 2019 produziu a série “Nós Negros” em parceria com o SescTV.
Serviço
Festival de Cinema “FILME POSSÍVEL”
Encontro Virtual com Juliana Vicente
“Cinema do Possível – Furando Bolhas”
Terça-feira, dia 26/01, às 19h – evento online e gratuito
Informações sobre as demais atividades do festival: http://www.filmepossivel.com.br