Na
relação entre motoristas e passageiros, um ditado popular se encaixa com
perfeição: gentileza gera gentileza. Muitas vezes, uma atitude considerada
insignificante e corriqueira para um lado, transforma-se em algo que realmente
chama a atenção e incomoda a outra parte. Aparar essas arestas, porém, é fácil.
Em nome do bom relacionamento, entendimento e acolhimento entre os dois lados
ganham amparo em iniciativas que promovem a integração. Quem tem razão no
debate? Ninguém, pois o respeito com o outro deve prevalecer acima de tudo.
De acordo com pesquisa da empresa de mobilidade
urbana 99, o mau comportamento corresponde a 59% de todos os casos de violência
reportados para o app. Questões como assédios (23%), agressões verbais (14%) e
físicas (7%) e discriminações (4%) encabeçam o ranking. Em resumo: educação,
tolerância e respeito evitariam boa parte dos problemas.
Para melhorar o convívio, é preciso primeiro
conhecer o que aborrece cada uma das partes. Chegar rápido ao destino é o
desejo de todos os passageiros e, por isso, vale pisar mais forte no
acelerador? O levantamento da 99 ao menos não demonstra isso. As atitudes no
trânsito de quem está ao volante formam as principais queixas de quem utiliza o
serviço. Entre as mais corriqueiras, situações relacionadas com o respeito às
regras de trânsito, como dirigir em alta velocidade e falar ao volante. Alguns
usuários também questionam a opção por caminhos mais longos.
Já do lado dos motoristas parceiros, as
reclamações também envolvem problemas comportamentais. Apenas 8% aceitam que os
clientes entrem sujos ou molhados no veículo, de acordo com o levantamento.
Outras reclamações surgiram em uma conversa em
um grupo com motoristas de Belo Horizonte (MG). Em época de pandemia, por
exemplo, os profissionais se demonstram incomodados com os passageiros que
insistem em retirar a máscara para falar ao telefone. Bater a porta do carro e
no meio do percurso alterar o destino sem avisar são outros pontos apresentados
pelo grupo.
“Existem outras queixas. Alguns querem arredondar
para baixo o valor da corrida. Isso é comum em áreas mais ricas da cidade. Ou
alegam ter apenas uma nota de R$ 50 e, com isso, buscam não pagar a corrida,
por não termos troco”, destaca Neuma Costa Soares, motorista parceira na
capital mineira.
Para conseguir aparar as arestas, a boa educação
sempre deve predominar. A relação começa com o respeito entre as partes. Um bom
exemplo é a motorista parceira Eva Terezinha de Oliveira Trindade, de Porto
Alegre (RS). Descontraída, ela busca soluções simples para atender as
individualidades de cada passageiro e, com isso, deixar o dia mais agradável.
“O lado bom é que existem pessoas simpáticas e educadas. Às vezes
desabafam, contam histórias. É muito legal. Costumo aprender bastante ao
volante. Eu gosto de falar. Então, deixo uma brecha para a pessoa iniciar o
diálogo. Mas, quando o passageiro prefere o silêncio, fico calada, sem
problema”.
Entendimento como guia
Apesar das diferenças entre os dois lados da
moeda, a convivência pode ser ainda mais cordial com pequenas mudanças de
comportamento. Para auxiliar o relacionamento entre passageiros e motoristas, a
99 criou em parceria com o Instituto Ethos o Guia da Comunidade. “A gente
construiu um processo de uma forma bastante parceira, no sentido de conseguir
compreender a opinião das pessoas que fazem parte dessa comunidade. Falamos de
passageiros, de motoristas parceiros, que se dedicam a essa plataforma. Fomos
conversando com grupos focais, para tentar entender e compor essa visão”,
conta Ana Lúcia Melo, diretora adjunta do Ethos.
Segundo ela, a aplicação dos conceitos de
integridade e direitos humanos foca na interação que existe entre as partes.
Por conta disso, os pilares do guia são: respeito, segurança, responsabilidade
e comunicação.
“Quando falamos de respeito, de segurança,
expõe o que é verbalizado pelos motoristas e pelos passageiros. O que sentem de
preocupação, o que a gente entende que deveria ser melhorado, e as boas formas
de fazer, de maneira que vou me sentir mais respeitado, seguro dentro desse
ambiente. Então, falar de respeito se aplica a qualquer organização”,
reforça Ana Lúcia.
Um dos principais compromissos do Guia da
Comunidade 99 é sobre como tornar esse ambiente de promoção e respeito, o que
rende uma boa convivência. “Queremos que as pessoas sejam protagonistas na
luta por respeito e diversidade”, diz Pâmela Vaiano, diretora de
Comunicação e Responsabilidade Social da 99. “Esperamos que o Guia leve a
todas e todos a interagir ainda mais com o app, reportando casos de desrespeito
e discriminação para que possamos bloquear agressoras e agressores, construindo
assim uma plataforma cada vez mais segura e tolerante”, pontua. O manual
com dicas práticas para o bom convívio e respeito está disponível no site
www.guiadacomunidade99.com.br
Relação entre iguais
A diretora do Instituto Ethos reforça que, na
relação entre passageiro e motorista, não há um ente superior, ou seja, ninguém
é melhor que o outro. “No Brasil, de alguma forma, nós temos uma tendência
a repetir certos comportamentos. É preciso entender que alguém que está
prestando o serviço merece ser respeitado. A gente, de alguma maneira, traz
para reflexão e entende que é um processo de compreensão sobre o que é sua
responsabilidade e qual é seu papel, a maneira de tratar o outro”,
destaca.
Ana Lúcia acredita que o debate é essencial,
justamente para aprimorar o nível de relacionamento entre ambos. “Muitas
vezes, são questões estruturais, que vão além do que se restringe à dinâmica da
plataforma. Mas entendemos que valia a pena abordar e, de alguma maneira,
estimular uma conscientização, uma visão de troca, de ganho mútuo. Foi um dos
pontos que buscamos abordar no trabalho”, complementa.
Pesquisa mostra o que incomoda motoristas e passageiros no transporte por app
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