Sócios em esquema de rachadinnha trocam acusações
Menos de um mês após sofrer tentativa de assassinato em que acusa de envolvimento o vereador Lucas Sanches, candidato a prefeito pelo PL, o ex-chefe de Gabinete e até meses atrás amigo inseparável Caíque Marcatti, em entrevista exclusiva ao HOJE TV, revela detalhes de como era o esquema de corrupção no gabinete. “Foram três pessoas armadas que me agrediram junto com o jornalista Valdir Pimenta por questões relacionadas ao gabinete de Lucas Sanches”, disse. Na quarta-feira, ele enviou à Comissão de Ética da Câmara Municipal e ao Ministério Público Estadual um dossiê completo com todas as provas relativas ao caso.
Entre as novas revelações de Marcatti, está um contrato de “parceria e cooperação que entre si celebram Lucas Sanches Promessia e Caíque Marcatti Calimerio”, com assinaturas reconhecidas pelo 1º Tabelião de Notas de Guarulhos em 14 de outubro de 2020. O documento mostra que Sanches vendeu metade de seu gabinete ao amigo por R$ 80 mil.
Somente mais de três anos após celebrarem o contrato de parceria, Marcatti vem a público denunciar o esquema que, de certa forma, fez parte. Ele garante que rompeu com o grupo de Sanches após o Ministério Público Estadual e a Polícia Civil iniciarem investigações contra o vereador. “Ele queria que eu assumisse crimes que ele cometeu. E eu me neguei. Ele e o Carlos Santiago (vereador em Itaquaquecetuba e agora candidato à Câmara em Guarulhos) me chamaram para uma reunião dentro da sede do PL me convidando para assumir esses crimes”, afirma. “Eu disse que não faria isso”.
O ex-chefe garante que esse momento foi a gota d´água para o rompimento entre eles. “Sempre falei para o Lucas não fazer nada de errado. O Lucas se enfiou em vários crimes dentro do gabinete dele. Por conta dele”, disse. “A partir daquele momento tivemos um desentendimento e aí começaram as ameaças”.
Vídeo mostra assessores separando o dinheiro das rachadinhas
Marcatti apresentou como prova das “rachadinhas” feitas dentro do gabinete de Lucas Sacnhes um vídeo em que um grupo de assessores separa grande quantia em dinheiro, que seria fruto das práticas ilegais que beneficiariam o vereador. Parte do dinheiro arrecadado foi usado, segundo o ex-chefe de Gabinete, para o vereador comprar um apartamento no bairro da Mooca, em São Paulo.
“Esse dinheiro era proveniente das rachadinhas que aconteciam dentro do gabinete”, apontou. O ex-chefe conta que fez o vídeo para se proteger, já que aquelas pessoas faziam o recolhe da rachadinha e repassavam parte para o Lucas. “Eu não estou caguetando nada. Estou aqui me protegendo de tudo que eles querem imputar contra mim”, completou.
O Lucas nomeou duas pessoas para fazer essa situação de rachadinhas. “Essas pessoas eu sempre questionava para ele o motivo de estarem nomeadas porque eu nunca vi elas na Câmara. Eu me neguei por diversas vezes a assinar a folha do ponto. Vários meses eles não têm a folha de ponto assinado. Ele sempre vinha com conversa fiada. Assina aí. Algumas folhas foram assinadas por mim, não todas, porque era um jeito de eu pressionar ele para essas pessoas aparecerem ou para se livrar delas, tanto que no momento que se tornou insustentável essa situação eu pedi minha própria exoneração”, explicou.
Marcatti disse que parte do dinheiro foi usado para que Lucas Sanches pagasse as prestações de um apartamento que adquiriu anos atrás na Mooca. “Ele queria usar como rendimento lá. Aí ele acabou nomeando essas pessoas para pegar o dinheiro do salário delas e pagar essas parcelas. E o que sobrava ele pagava as despesas do escritório. Ele basicamente operava a rachadinha dentro do gabinete para benefício próprio”, completou.
Contrato revela que Lucas vendeu 50% do mandato de vereador por R$ 80 mil
Ao assumir como vereador em 1 de janeiro de 2001, o cidadão Lucas Sanches Promessia já não contava com o comando total de seu mandato. Três meses antes de assumir o cargo pela primeira vez na vida, o jovem que surgiu dentro do MBL (Movimento Brasil Livre) já tinha “vendido” 50% do controle do Gabinete ao então amigo Caique Marcatti, conforme comprova um contrato assinado entre os dois de “parceria e cooperação”, inclusive com as assinaturas reconhecidas em um cartório da cidade, o que demonstra a veracidade do documento.
Sanches, denominado “Parceiro 1” no contrato, vendeu metade de seu Gabinete ao amigo por R$ 80 mil, dinheiro que deveria ser utilizado para cobrir suas despesas de campanha de 2020 para vereador. A ele ficou a “gestão administrativa e financeiro de 50% do gabinete”. A “Parceiro 2”, no caso Marcatti, ficou a “indicação para nomeação de 50% dos cargos em comissão” na Câmara, além do cago de “Chefe de Gabinete”.
Segundo o ex-chefe de Gabinete, Lucas sugeriu fazer um contrato porque Marcatti revelou que temia que o amigo não cumprisse os acordos que os dois fizeram durante a campanha eleitoral daquele ano. “Em 2020, eu e o Lucas juntamos nossas campanhas. Naquela oportunidade que ele me chamou para juntar a campanha dele eu não quis aceitar porque não dava para confiar na palavra dele. Depois lá na frente você não cumpre comigo, é muito difícil. Aí ele me propôs esse contrato que previa que ele me daria 50% dos cargos do gabinete mais a chefia em troca de um mandante de R$ 80 mil”, revelou.
Para Marcatti, naquele momento, Lucas estava interessado no dinheiro que ele tinha para a campanha. “Era um dinheiro meu, declarado, um dinheiro legal, mas que ele queria para campanha dele, para que ele viesse a ter chance na disputa”, explicou. “Ele simplesmente ali estava vendendo o mandato dele. A real é essa. É o que ele estava fazendo e é o que está fazendo agora na campanha para prefeito com vários empresários envolvidos ligados ao Valdemar da Costa Neto (presidente nacional do PL)”.
“Lucas está literalmente rifando a Prefeitura de Guarulhos para empresários”
Marcatti acredita que Lucas está fazendo a mesma coisa agora, vendendo o mandato na Prefeitura de Guarulhos. “Como ele tá fazendo uma campanha tão grande se não tem renda para isso?. O Lucas está literalmente rifando a Prefeitura de Guarulhos para empresários sem índole nenhuma simplesmente em busca de poder e dinheiro sujo. Está rifando os contratos da cidade, da saúde, da educação”.
O contrato entre Lucas entrou em vigor em 1 de janeiro de 2021 com prazo de 48 meses, ou seja, até o final de 2024. A multa para a parte que descumprisse as clásulas contratadas é de R$ 1.440.000,00. “Não era da minha ideia nomear os 50% de gabinete. Eu queria construir um projeto político ao lado dele. Ele faz de tudo pelo poder e esse contrato é a prova disso”, finalizou.
Lucas Sanches denuncia tentativa de extorsão por ex-funcionário
Em um desabafo nas redes sociais, Lucas Sanches, afirmou ter sido vítima de uma tentativa de extorsão praticada por um ex-funcionário. Segundo Sanches, o ex-colaborador (Kaique Marcatti) tentou lhe extorquir financeiramente, e, ao não conseguir, teria decidido se aliar a um “sistema” que ele alega estar por trás de uma campanha difamatória contra ele.
“Fiquem atentos, pessoal. Eu fui vítima de uma tentativa de extorsão por parte de um ex-funcionário meu que não conseguiu tomar dinheiro de mim, sabe o que ele fez? Ele se vendeu para o sistema”, afirmou Lucas Sanches. Ele alega que esse mesmo sistema, o qual ele acredita estar ligado a interesses eleitorais, tem espalhado jornais com informações contra ele em um momento estratégico. “Jornais que nunca chegaram na sua casa agora aparecem por todo lado, estampando o meu rosto, justamente em mês de eleição”, acrescentou.
