O varejo alimentar brasileiro é um dos mais intrigantes do mundo, com tamanho e musculatura de um país com mais de 200 milhões de habitantes, mas que ainda tem relativamente poucas alternativas ao consumidor final nas gôndolas. Sim, é possível encontrar gôndolas mais diversas principalmente em empórios e lojas especializadas, mas a maioria das lojas tanto de pequenas, quanto grandes redes ainda têm suas gôndolas tomadas por produtos de grandes fabricantes como Unilever, P&G, Coca-Cola, Nestlé…
O oposto desse comportamento está na forma como os varejos europeu e norte-americano atuam, com peso muito maior de marcas locais em suas gôndolas. Iniciativas como a da rede varejista norte-americana Kroger, uma das maiores varejistas de alimentos nos Estados Unidos, que tem histórico relacionamento com pequenos negócios locais e recentemente lançou a iniciativa Go Fresh & Local – Supplier Accelerator (Um slogan próximo de: Escolha o Fresco & Local – Aceleradora de Fornecedores).
Ou o exemplo da rede varejista belga Delhaize, que em Abril de 2021 anunciou que mudaria por um mês o nome da rede para Belhaize, fazendo referência às 3 primeiras letras do nome do país – Bélgica) como forma de demonstrar seu compromisso com marcas locais, num objetivo de ter ao menos 70% dos produtos vendidos em suas lojas provenientes de produtores belgas, estratégia alinhada com a busca dos consumidores por produtos locais em plena pandemia, depois do aumento de 15% na venda de produtos belgas em 2020.
“Diversos podem ser os motivos para que nosso varejo não tenha mais proximidade com a realidade desses locais, desde questões logísticas, passando por padronização de portfólio do varejista, até o famoso “evitar riscos que toda mudança carrega” podem ser alguns dos motivos que resultam na baixa variedade de produtos”, afirma Eduardo Vivan, líder de comunidade da Local.e, plataforma digital que conecta varejistas e marcas locais, facilitando a descoberta de novos produtos.
Segundo o especialista, nessa dinâmica perdem todos:
● varejistas perdem a chance de se diferenciar de seus competidores, trazendo opções de produtos inovadores, verdadeiras novidades no mercado.
● marcas locais têm seu crescimento desacelerado pela dificuldade em alcançar um grande leque de lojas para seus produtos de maneira rápida e eficiente.
● consumidores encontram poucas alternativas nas gôndolas, sendo privados de produtos inovadores, adequados à sua necessidade.
No entanto, na opinião do especialista, os varejistas não podem se dar ao luxo de fechar os olhos ao mercado de marcas locais, pois essas empresas são muito mais ágeis, surfam tendências de mercado rapidamente e colocam no mercado produtos relevantes aos consumidores muito mais rápido do que qualquer grande fabricante. “Marcas locais usualmente lançam produtos mais saudáveis, com melhores ingredientes, conseguem melhor rastreio de suas cadeias produtivas, além de já surgirem sintonizadas com a busca de impacto socioambiental positivo”, diz Vivan.
Justamente por esses motivos, marcas locais devem contar com o varejo como forma de alavancar vendas e popularizar seus produtos, enquanto varejistas devem avaliar formas de abrir mais espaço para essas marcas, utilizando-as de forma estratégica em suas gôndolas para engajar mais e melhor seus clientes. Uma relação que deve ser uma parceria em benefício de todos.
Para ajudar o varejo nessa jornada de descoberta das marcas locais, a Local.e e o Sincovaga-SP, sindicato que representa mais de 35 mil empresas do varejo de alimentos no estado de São Paulo, de mercearias e mercadinhos a sacolões, supermercados e hipermercados, se uniram na campanha ‘Colaborar para Fortalecer’, facilitando a conexão do pequeno varejo com a pequena indústria para construção de parcerias. Saiba mais em www.colaborarparafortalecer.com.br .